Até meados dos anos 90, a tequila era vista pelo mundo como uma bebida consumida em shots por jovens ávidos por embriaguez. Seu status começou a mudar com a fundação do Conselho Regulador da Tequila (CRT), uma organização privada e sem fins lucrativos dedicada a promover a cultura e a qualidade do destilado de agave. Ações conjuntas do CRT e do governo junto a produtores, consumidores e importadores fizeram a produção pular de 104 milhões de litros, em 1995, para 211 milhões de litros, em 2017. O México exportou, no ano passado, 70% do líquido produzido, em um volume financeiro de US$ 1,4 bilhão. Considerada pelos mexicanos “un regalo para el mundo” (um presente para o mundo), a bebida é hoje forte no segmento premium e motivo de orgulho para o seu povo.

O modelo implementado no País centro-americano é considerado uma inspiração para produtores de cachaça. Perto da tequila, a cachaça ainda engatinha em termos de mercado, sobretudo externo. Somente 1% da produção do destilado brasileiro é exportada, no equivalente a US$ 16 milhões, de acordo com Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac). A comparação é ainda mais assombrosa quando se leva em conta que a capacidade instalada de produção anual da cachaça é de 1,2 bilhão de litros, o dobro da do destilado de agave.

É preciso vencer obstáculos domésticos para crescer no exterior, na opinião de Vicente Bastos Ribeiro, produtor da Fazenda Soledade, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Entre as medidas necessárias está o combate à informalidade, que garantiria um padrão de qualidade ao líquido. “Esse trabalho deve ser feito por vários agentes, como Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, secretarias de Fazenda, Vigilância Sanitária e Ministério da Justiça”, diz ele, destacando também que produtores, comerciantes e consumidores têm o seu papel na luta contra a clandestinidade.

Eduardo Caldas, gestor de projetos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), concorda que a organização interna dará projeção internacional à aguardente. “Com a união do setor, podemos fazer o dever de casa e chegar ao mercado externo, ávido por novidades”, opina. Caldas explica que as empresas nacionais, mesmo as grandes, ainda não têm cultura de exportação. “Nós mostramos aos produtores que quem exporta tem mais garantia para as suas vendas”, afirma.

Um dos movimentos mais importantes para o crescimento da cachaça no exterior é o reconhecimento de sua indicação geográfica. Estados Unidos, Colômbia e México consideram a cachaça, por lei, um produto brasileiro. É pouco, frente às 46 nações que protegem a tequila como um bem mexicano, mas um avanço.

De acordo com Camila Sande, assessora da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a prioridade, no momento, é obter o reconhecimento por parte da União Europeia (UE), não apenas pelo mercado consumidor do bloco econômico, mas por sua influência no globo. “Muitos países têm a União Europeia como referência”, afirmou ela no evento “Cachaça: Símbolo Nacional”, promovido no dia 20 de setembro em São Paulo, pelo Ibrac.

Cachaça x tequila: desempenho da exportação

*Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac)
**Conselho Regulatório da Tequila