Quem gosta de cachaça costuma encontrar bebidas envasadas em garrafas sem qualquer informação sobre a sua procedência. No entanto, a informalidade é um grande problema para a cadeia produtiva desse destilado. Dos 11 mil produtores de aguardente de cana-de-açúcar identificados pelo Censo Agropecuário do IBGE de 2017, apenas 1,5 mil têm registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Além de oferecer um risco à saúde pública, a clandestinidade promove concorrência desleal na cadeia produtiva. Todo mundo perde”, afirma Carlos Lima, diretor executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac).

Na opinião da bartender Adriana Pino, de São Paulo, o consumo consciente de bebida diz respeito não apenas à quantidade, mas também à qualidade do líquido ingerido. “Sirvo aos clientes somente cachaças de marcas conhecidas e que são sinônimos de qualidade”, afirma. Vencedora da etapa brasileira do World Class Competition 2018, concurso de coquetelaria promovido pela Diageo, líder mundial na produção de destilados, Pino recomenda que, na hora da compra, as pessoas observem se a garrafa tem o número de registro do estabelecimento no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Outros indicativos de boa procedência são aspecto e odor. Vicente Bastos Ribeiro, produtor das cachaças da Fazenda Soledade, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, ensina que a cachaça precisa ser transparente, sem depósito de materiais. “O aroma não pode ser alcóolico demais e a experiência deve ser agradável, deixando um gosto suave na boca depois de engolir o líquido”, afirma. O teor alcoólico da cachaça varia de 38 a 48%, na média dos demais destilados.

É cada vez mais fácil encontrar cachaças sofisticadas no mercado. Os produtores estão atendendo a um desejo do consumidor por bebidas e alimentos premium. “A evolução da cachaça muda até a forma de consumi-la. O copo de shot está sendo substituído por taça. Em vez de tomar de uma vez, a pessoa degusta de golinhos, intercalando com água”, afirma Ribeiro.

As bebidas premium também estão dando nova roupagem aos coquetéis. “Faz toda a diferença preparar um drinque com ingredientes de qualidade”, aponta Adriana Pino. Na opinião dela, a cachaça não deixa a desejar a nenhum outro destilado, e para coquetéis é tão versátil quanto o rum, sua bebida “irmã”, também feita a partir da cana-de-açúcar.

Pino recomenda prestar à atenção à madeira utilizada no processo de envelhecimento da cachaça. Bálsamo, amburana, jequitibá, ipê e carvalho são alguns dos mais de 30 tipos de madeiras utilizadas, o que faz parte da riqueza sensorial do líquido . “Cada madeira confere características diferentes à bebida, como notas florais e frutadas”, diz ela. O preconceito contra a cachaça, ainda vista por muitos como uma bebida rústica, está ficando para trás.