Transmitindo grandes quantidades de energia por longas distâncias
Sistema HVDC é mais sustentável e reduz perdas de energia
As interrupções no fornecimento de energia, além de afetar as residências, têm grande impacto no comércio e na indústria, prejudicando o desenvolvimento econômico. Por isso, são fundamentais soluções alternativas mais sustentáveis para cuidar do presente e, principalmente, do futuro, assegurando assim que não falte energia. Mas como atender ao crescimento da demanda sem o risco de causar apagões e diminuir as perdas de energia? Algumas soluções já são realidade. Apontado como uma das alternativas, o sistema HVDC tem potencial de trazer também benefícios econômicos e sociais ao País.
Na sigla em inglês, HVDC significa high-voltage direct current, isto é, corrente contínua em alta tensão. Esse sistema usa a corrente contínua para transmissão da energia, ao contrário do tradicional, que utiliza a corrente alternada. Na prática, isso permite que a energia seja transportada em grandes distâncias (e volumes) e também proporciona a interligação entre redes de energia com frequências diferentes.
A grande vantagem é a maior margem de estabilidade para o sistema como um todo, segundo Antônio Ricardo Carvalho, do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL). “No caso do Brasil, com uma matriz energética predominantemente hídrica, na qual as maiores usinas encontram-se distantes dos centros consumidores, a transmissão HVDC naturalmente ganha importância”, afirma o especialista.
Segundo a professora Milana Lima dos Santos, do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas (PEA) da Poli, a corrente contínua não substituirá totalmente a alternada, mas é uma boa alternativa em situações específicas. “Em Itaipu, por exemplo, é um projeto de integração internacional entre Brasil e Paraguai. O Brasil trabalha com frequência de 60 Hz, enquanto o Paraguai utiliza a frequência em 50 Hz. Desta forma, a solução para a transmissão entre os dois países é a tecnologia HVDC”.
Benefícios para a população
O consumidor final também sai em vantagem com as linhas HVDC, como enfatiza Arthur Pereira Neto, diretor da área de transmissão da Siemens. A empresa já trabalha com a tecnologia em 22 países, em todos os continentes.
“A transmissão em corrente contínua permite o transporte de um grande volume de energia, diminuindo os riscos e as perdas entre regiões geradoras e grandes polos consumidores do Brasil, com potencial de redução de tarifas para a população”, observa Arthur.
O Brasil já utiliza a tecnologia HVDC para transmitir energia de Itaipu para região Sudeste e também da usina Rio Madeira para o Sudeste. Com isso, o local que mais consome energia no País tem uma grande potência à disposição com menor risco de quedas e perdas na transmissão.
Ultra-alta tensão
Em breve, o Brasil terá a primeira rede HVDC de ultra-alta tensão (800 kv) no projeto que interliga Estreito, em Minas Gerais, a Xingu, no Pará, com extensão de 2,1 mil quilômetros. O HVDC de 800 kv é ainda mais eficiente do que os em operação no Brasil (600 kv). Ele pode reduzir as perdas de 30% a 40% das regiões geradoras de energia para os grandes polos consumidores, trazendo maior estabilidade ao Sistema Integrado Nacional (SIN), ou seja, menor risco de apagões.
“Em nível mundial, possivelmente o Brasil estará entre os cinco países com maior aplicação da tecnologia HVDC, no que se refere à capacidade instalada e dimensão total das linhas de transmissão”, disse Carvalho.
Além do Brasil, China, Índia, Estados Unidos e Canadá possuem extensa aplicação da tecnologia. Como se vê, os países com uma grande aplicação são justamente os de grandes dimensões, com distâncias extensas para a transmissão de energia. Os grandes países em área territorial têm como característica o consumo heterogêneo de eletricidade nas diferentes regiões. Por exemplo, o Sudeste brasileiro tem uma demanda quase sete vezes maior do que o Norte. Por isso, o HVDC é importante para equilibrar essa distribuição do consumo com eficiência.
Meio ambiente agradece
A tecnologia HVDC é mais sustentável, já que agride menos o solo ao usar uma quantidade menor de terreno para fazer a transmissão de energia. As torres seguem o mesmo caminho, já que precisam sustentar menos peso e, por isso, são menores. “Ao contrário da corrente alternada, que possui três fases, cada uma necessitando de um cabo específico, a contínua requer apenas dois cabos, uma para cada pólo. Em uma distância longa, esse aspecto faz muita diferença nos gastos com cabos de transmissão”, destaca Milana.