Empresas brasileiras investem em eficiência energética

Reduzir os custos com energia é questão de sobrevivência no mundo atual e o País tem bons exemplos para mostrar

Economizando energia, o Brasil vai poupar dinheiro e preservar o meio ambiente. É o que mostra o Plano Decenal de Expansão de Energia 2026, prevendo que os resultados da contribuição da eficiência energética podem atingir 17 milhões de tep (toneladas equivalentes de petróleo) daqui a nove anos. Isso é muita coisa, é o equivalente a 7% do consumo final energético do Brasil em 2015. Na indústria, projeta-se uma conservação de 5% em relação à demanda neste período. Os setores de transporte, residencial, serviços e agropecuário também têm expectativa de melhora.

Por isso, eficiência energética passou a ser palavra de ordem no meio empresarial. É preciso produzir mais gastando menos energia, já que atualmente ela responde por um dos principais custos de uma organização. Até 2026, porém, o Brasil tem muito a fazer. Um estudo do Conselho Americano para uma Economia de Energia Eficiente (Aceee), divulgado no ano passado, mostrou que o País ocupa a 15ª posição do ranking que avaliou a eficiência energética entre 16 importantes economias do mundo. Só estamos à frente do México.

Apesar dos números brasileiros não serem os melhores, há muitas empresas por aqui dedicadas a gastar menos eletricidade. Presente em mais de 180 países e com filiais no Brasil há 62 anos, a Atlas Copco hoje tem a eficiência energética como uma de suas bandeiras. Este ano, a fábrica em Barueri, que produz, entre outras coisas, compressores industriais e equipamentos de tratamento de gás e de ar, vai concluir a certificação ISO 50001: 2001, uma das mais importantes no mundo sobre gestão de energia.

Para chegar a essa certificação, a Atlas Copco instalou medidores inteligentes e controladores de consumo. Ao todo, foram inseridos 22 medidores modelo Sentron PAC Siemens e outros sete medidores diversos nas áreas produtivas na planta de Barueri, que tem 550 funcionários. Os equipamentos fazem a leitura em tempo real do consumo de cada setor e informam os resultados a um software, que determina os horários mais eficientes para o uso de energia.

Com a certificação, que deve ser concluída em dezembro, a Atlas Copco pretende aprimorar sua matriz energética e trabalhar na conscientização dos seus colaboradores, avisando sobre meios de economizar energia em todos os setores, desde uma sala de reunião até o funcionamento de um equipamento.

"Foram identificadas áreas que podem ter ganho em eficiência energética e todos os colaboradores foram treinados, também foram realizadas campanhas visuais internas, com banners e cartazes”, explica Sergio Cruz, Engenheiro de Segurança e Meio Ambiente da Atlas Copco.

Uma tendência mundial

Nos últimos 10 anos, tem aumentado o interesse das empresas em gastar menos energia. Essa preocupação vai desde a simples troca de lâmpadas por mais econômicas até a mudança de turnos de trabalho dos funcionários para melhor aproveitar a eletricidade. “A energia no Brasil é cara, e estamos muito distantes de alguns países. O caminho é longo, mas favorável para ações nesse sentido”, afirma Anderson Grava, diretor de engenharia da Gestal, empresa que produz ferramentas e oferece soluções de eficiência energética.

Em Minas, a Minasligas apostou na mudança para gastar melhor a eletricidade. A empresa que produz liga de silício instalou um sistema inteligente de gerenciamento para controle e monitoramento da demanda de energia.

Assim, passou a utilizar 100% da demanda solicitada sem ocorrência de ultrapassagens. Grandes companhias, que consomem muita energia, são obrigadas a ter um total de consumo estabelecido. Caso elas ultrapassem, pagam multa. Caso utilizem menos, pagam pelo que foi contratado. Ou seja, usar exatamente os 100% do combinado é fundamental para evitar desperdícios. No caso da Minasligas, esse contrato é de 150MVA, e as ações em busca eficiência energética deixaram a empresa assertiva em relação ao consumo, conseguindo uma economia de 5% de sua capacidade instalada atual.

“A eficiência operacional da empresa está intimamente ligada à eficiência energética de seus processos, sendo quase uma correlação direta”, diz Minervino Neto, gerente de manutenção elétrica da Minasligas.

Por isso, os cerca de 400 funcionários da Minasligas estão engajados em gastar menos. Setores da empresa têm como meta reduzir o consumo de energia e, caso ela seja cumprida, o colaborador é premiado.

Indústria moderniza equipamentos

Outra que tem apostado na modernização de equipamentos e também na otimização dos recursos para consumir menos energia é a indústria de fertilizantes Galvani. Em 2015, a empresa patenteou um processo seco para produção de fosfato, o que diminuiu muito a necessidade da fábrica e do consumo. Além disso, turbos geradores cogeram energia a partir do vapor.

Com isso, a fábrica em Paulínia, interior de São Paulo, passou a ser completamente autossuficiente. Ela tem hoje capacidade instalada de quase 11 megawatts, sendo que gera 7 megawatts, dos quais consome 6 megawatts. O restante vai para sua planta de mineração em Minas Gerais.

Toda a energia utilizada nas operações da Galvani é proveniente de fontes renováveis, tais como eólica, solar e de PCH (Pequenas Centrais Hidroelétricas). Somente em 2015, a empresa contribuiu para redução da emissão de cerca de 2.756 toneladas de CO2 equivalente na atmosfera.

Cidadão também é beneficiado

O cidadão comum também se beneficia das soluções de eficiência energética. Segundo Anderson Grava, os produtos podem chegar ao mercado com custo menor, já que as empresas irão gastar menos no processo de produção. Além disso, o investimento privado em soluções energéticas diminui os gastos do governo neste setor. “Esse dinheiro economizado pode ser investido em outras necessidades da população”, conclui.