Um gás no abastecimento: tecnologia leva água para 5 milhões de pessoas em SP

Solução beneficia 18 bairros, além dos municípios de Guarulhos e São Caetano

Há 24 anos, Jony Henriques é dono de uma lanchonete no centro de Guarulhos. Em 2014, o comerciante viveu um dos seus piores momentos. A crise hídrica que atingiu o Estado de São Paulo provocou um racionamento de água na cidade e fez com que ele tomasse medidas drásticas. Hoje, porém, a situação é bem diferente graças a projetos que abastecem as torneiras de milhões de pessoas.

“Por conta do racionamento, tive que fechar o banheiro, proibindo os clientes de usá-lo durante este período. Além disso, também optei por usar talheres de plástico no café e também no almoço. Alguns clientes deixaram de vir aqui, mas foi algo extremamente necessário na época”, declarou o pequeno empresário.

Jony também é membro de uma igreja na região. Na época, seu grupo precisava buscar caminhões-pipa nos dias de qualquer evento.

Guarulhos foi um dos municípios mais atingidos pela crise hídrica em 2014. Cerca de 850 mil moradores tiveram que conviver com o racionamento, com água nas torneiras dia sim, dia não. Principal reservatório do Estado, o Cantareira, chegou ao índice mais baixo de sua história.

Hoje, o quadro é outro. Segundo o Governo de São Paulo, a crise hídrica acabou em março de 2016. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) anunciou que foram realizadas cerca de 500 obras de pequeno, médio e grande porte para aumentar o volume de água reservada, ampliar a capacidade de tratamento e interligar áreas de abastecimento.

Alívio ao Cantareira

Uma dessas obras é a interligação entre o sistema Rio Grande (que faz parte da Represa Billings) e o Alto Tietê (Represa Taiaçupeba) por um aqueduto de mais de 10 quilômetros de extensão. Por meio de geradores a gás, a solução aumenta a segurança hídrica e leva água para 5 milhões de pessoas, aliviando assim a dependência do Cantareira.

Em função disso, água não é mais a preocupação na lanchonete de Jony. A obra que atendeu o comerciante também beneficia, diretamente, os bairros paulistanos Mooca, Parque da Mooca, Vila Oratório, Quarta Parada, Belenzinho, Tatuapé, Belém, Catumbi, Vila Maria, Chácara Bela Vista, Vila Guilherme, Parque Vila Maria, Parque Novo Mundo, Vila Medeiros, Jardim Japão, Vila Izolina Mazzei, Vila Munhoz e Vila Ede, além de todo o município de São Caetano do Sul e 70% da cidade de Guarulhos.

Grande operação

Mas como levar um volume tão grande de água por um aqueduto de 10 quilômetros? A operação ficou a cargo da empresa Tecnogera, contratada pela Sabesp para fazer esse bombeamento. A empresa instalou uma mini-usina geradora de energia em uma estação de bombeamento de águas do sistema Rio Grande para o Alto Tietê. A solução tem a capacidade de mover 4 mil litros (ou 4 metros3) de água por segundo. Isso seria equivalente a 12 caminhões pipa a cada minuto.

“O bombeamento funciona 24 horas por dia. Com isso, desafoga o Cantareira, que é o principal sistema do Estado, e quanto mais você recuperar o sistema principal, melhor. Além disso, é uma fonte limpa, interessante quando falamos na questão ambiental”, declarou Jorge Moreno, diretor da Tecnogera na América Latina.

Geradores a gás

Para realizar esse bombeamento da forma mais eficiente possível, a Tecnogera utiliza geradores a gás da Siemens, que oferecerão potência instalada de 10.2 MW.

Os geradores a gás têm menor impacto ambiental e baixa emissão de ruídos. “O uso de geradores a gás faz parte da estratégia da empresa em oferecer motores menos poluentes”, diz Abraham Curi, CEO da Tecnogera.

Segundo a Sabesp, hoje o Cantareira opera com 61,1% da capacidade, enquanto antes da crise, em 2013, o nível era de 51,7%. Outro ponto positivo, conforme a companhia, é que o padrão de consumo da população na Grande São Paulo se alterou após a estiagem de 2014 e 2015 e hoje a produção de água é 15% menor em relação ao que era há quatro anos. Ou seja, existe mais água armazenada e o consumo está menor. Graças a essa mudança, Jony voltou a fornecer talheres de aço inox e seus clientes podem utilizar o banheiro normalmente, para alívio dos frequentadores e do proprietário da lanchonete.