Com a Cordilheira dos Andes ao fundo, a província de Mendoza, localizada no Centro-Oeste da Argentina, é sinônimo de vinhos de qualidade, um oásis internacionalmente reconhecido. O clima semidesértico, a altitude e o solo pouco fértil são fundamentais para o crescimento de vinhas excepcionais, que resultam em bebidas com alta complexidade de aromas e sabores.

A província responde por mais de 80% dos vinhedos argentinos – em seguida estão San Juan, Salta e Patagônia. Foi em Mendoza, inclusive, que o francês Michel Aimé Pouget, então diretor da Quinta Normal de Agricultura, plantou as primeiras mudas de Malbec, trazidas da França no início da década de 1850. Esta variedade, que posteriormente se tornaria símbolo dos vinhos daquele país, já em 1883 figurava entre as uvas cultivadas pela Trapiche, pioneira na região mendocina. Mais de cem anos depois, a vinícola também se consolidaria como ícone da região. Tanto que, somente a partir de 2014, soma 391 prêmios, incluindo a aprovação de grandes críticos como Robert Parker, James Suckling e Tim Atkin.

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A sede que a Trapiche ergueu em Godoy Cruz, um edifício de estilo florentino, verdadeiro símbolo da arquitetura local, logo se tornou referência entre os consumidores. Nos campos, a vinícola cultivava não apenas a Malbec, mas outras variedades de uvas internacionais como a Cabernet Sauvignon, a Merlot e a Chardonnay.

Já durante a chamada “revolução do vinho argentino”, que começou no final da década de 1980, a necessidade de conquistar o mercado externo era premente. No final do século 20 e começo do século 21, os produtores mendocinos começaram a procurar novas zonas de plantio. Assim, descobriram que, se explorassem a altitude da Cordilheira dos Andes, poderiam ter tintos e brancos de diversos perfis. Isso porque a altitude propicia novos microclimas e solos. Essa inovação mudou novamente por completo o padrão dos vinhos locais.

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Dessa forma, as províncias ao Sul de Mendoza, principalmente, ganharam milhares de hectares de Malbec, Cabernet Sauvignon, Shiraz e Merlot, entre outras variedades. Com mais de 1.500 hectares de vinhas próprias (além de mais de 3.000 hectares de parceiros), a Trapiche também aposta na altitude dos seus campos de cultivo, localizados a mais de mil metros acima do nível do mar. Atualmente, os enólogos da vinícola usam toda a sua expertise para mesclar as uvas das diversas regiões, obtendo assim uma grande variedade de vinhos com estilos únicos.

Para isso, a Trapiche segue cultivando o espírito pioneiro da região, inovando não só em relação aos terroirs, mas também nas técnicas de cultivo e irrigação – com as águas do degelo e dos rios da Cordilheira e diversas etapas do processo de vinificação. Para o amadurecimento do vinho, os grandes barris de madeira saíram de cena, dando lugar às barricas de carvalho menores, vindas da França e dos EUA. Além disso, tanques de inox agora permitem uma vinificação com maior controle de higiene. Já os tanques de concreto, deixados em segundo plano anteriormente, recentemente foram retomados. Isso porque especialistas descobriram que, por serem inertes, não interferem no sabor do vinho e permitem o controle adequado da temperatura, entre tantas outras vantagens.

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Atualmente, os vinhos mendocinos refletem todo esse investimento. Com alta qualidade, seja nas linhas mais simples ou nos rótulos premium, os produtos da região conquistam cada vez mais apreciadores ao redor do mundo. A Argentina figura entre os cinco maiores países produtores do mundo e seus vinhos ocupam o segundo lugar na preferência dos consumidores brasileiros, atrás apenas dos chilenos, de acordo com o ranking anual.

Conheça um pouco mais sobre as características de Mendoza, o paraíso do vinho argentino.

As regiões produtoras
Mendoza

Mendoza, a maior e mais conhecida região dos vinhos argentinos, concentra pelo menos 80% dos vinhedos do país. É possível encontrar, em suas sub-regiões, todas as variedades de uvas cultivadas na Argentina como Bonarda, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Shiraz e Malbec.

A Cordilheira dos Andes tem papel importante nas características dos vinhedos. Primeiro, os ventos frios do Pacífico são barrados por este verdadeiro paredão, o que garante um clima árido, quase desértico, com pouca chuva. O solo é pouco fértil e irrigado principalmente pelos rios que nascem na Cordilheira e pelo degelo.

Os primeiros vinhedos foram cultivados nos vales próximos à Mendoza. Com a revolução dos vinhos, as vinícolas começaram a prospectar plantações nas encostas das montanhas. Isso gerou uma migração para as áreas mais ao Sul, nas sub-regiões do Vale de Uco, em altitudes elevadas. As uvas cultivadas para o Iscay, um tinto premium da Trapiche, são desta região.

Ao Norte de Mendoza

Saindo de Mendoza em direção ao norte, mas mantendo a Cordilheira dos Andes à esquerda, há duas outras regiões importantes em terras argentinas.

A primeira é San Juan, a segunda maior em volume de produção, que faz fronteira com Mendoza. Aqui, a Malbec predomina, mas a Bonarda e a Shiraz também fazem sucesso. Na comparação com o clima, San Juan é mais quente do que Mendoza.

Seguindo mais ao norte está Salta. Nesta província, os vinhedos são cultivados nas maiores altitudes – há alguns plantados a mais de três mil metros acima do nível do mar. Salta é também a região da Torrontés, uma variedade ícone para os vinhos brancos argentinos, que resulta em bebidas perfumadas e agradáveis para os dias quentes.

Ao Sul de Mendoza

Seguindo ao Sul de Mendoza, a principal região vinícola é a Patagônia, que recebe pouca influência da Cordilheira dos Andes. São os rios que moldam a paisagem e definem a característica dos vinhedos. A região tem o solo um pouco mais fértil e a temperatura é baixa. A variedade Pinot Noir, original da Borgonha, na França, é o destaque local, porém a Malbec também prospera por aqui.

Mar del Plata

Ao sul de Buenos Aires está a mais nova região vinícola da Argentina e a única que não recebe influência da Cordilheira dos Andes, mas sim do Oceano Atlântico. A Trapiche é pioneira no local. Com clima e solo diferentes dos encontrados próximos aos Andes, seus vinhos são frescos e com um toque mais mineral. O projeto da Trapiche já resultou em sete rótulos diferentes, batizados de Costa & Pampa. O foco são as variedades mais adaptadas ao clima frio como Pinot Noir, Chardonnay, Riesling e Gewürtraminer. No Brasil, o Pinot Noir (entre tintos) e a Sauvignon Blanc e a Chardonnay (entre os brancos) são amplamente comercializados.