Se a rivalidade entre Brasil e Argentina há muito virou folclore, no copo e na mesa ela nunca existiu: o brasileiro sempre apreciou a qualidade dos vinhos do país vizinho. Em especial na companhia de um bom churrasco – seja um bife de chorizo ao chimichurri, seja uma picanha com farofa.

A produção de vinho na Argentina é uma das mais antigas das Américas. Já no século 16, missionários espanhóis trouxeram as primeiras mudas para a região oeste do país, no sopé dos Andes. Mas a viticultura tardaria muitos anos para dar dois enormes saltos de qualidade e quantidade.

Somente no século 19, com a imigração maciça de italianos, a região de Mendoza se tornaria referência em vinho na Argentina. Foi em 1883 que Tiburcio Benegas fundou a vinícola El Trapiche, pioneira na produção de vinhos finos com uvas de origem francesa. Ele também financiou a ferrovia que liga Mendoza à capital Buenos Aires, concluída dois anos mais tarde. Enfim os portenhos teriam suprimento constante de vinho mendocino: nascia a indústria do vinho argentino.

Apesar de enorme, esse mercado passaria mais um século voltado para o consumo interno, com vinhos feitos para o consumo do dia a dia. O segundo salto se daria nos anos 1990: os vinicultores argentinos apostaram forte na qualidade e transformaram o país em um grande exportador. A uva malbec se consolidou como marca de identidade do vinho argentino. Os produtores buscaram informação e tecnologia para tirar o máximo das ótimas condições climáticas e do generoso solo de Mendoza. A Argentina passa a produzir grandes vinhos reconhecidos no mundo todo. E a Trapiche, maior vinícola do país, esteve sempre à frente desse movimento.

Sucesso em São Paulo

O consumidor brasileiro, em especial o paulistano – que dita as tendências no País –, participou ativamente dessa revolução do vinho argentino. A explosão do consumo por aqui se deu depois do Plano Real, em 1993, quando mais pessoas puderam viajar à Argentina.

De imediato, o paulistano se apaixonou pelo vinho malbec – intenso, frutado e deliciosamente fácil de beber. O surgimento de dezenas de parrillas argentinas por São Paulo deu impulso a uma mudança de paradigma: pela primeira vez, o brasileiro trocava a cervejinha pelo vinho na hora do churrasco. E as prateleiras dos supermercados não mentiam: o vinho argentino tinha o melhor-custo benefício.

Com o passar do tempo, o consumidor paulistano evoluiu no mesmo passo do vinho argentino. Percebeu que havia muito mais do que o malbec do dia-a-dia. Descobriu grandes vinhos, outras uvas, outras ocasiões de consumo. Como, por exemplo, a harmonização de vinhos muito especiais com as criações dos chefs dos melhores restaurantes. É essa experiência enogastronômica que o Roteiro Trapiche quer proporcionar a você.

Para que você aproveite plenamente a experiência e os vinhos da Trapiche, veja a seguir um breve panorama da vinicultura da Argentina.

As principais variedades 

Malbec

Variedade tinta que nasceu na França, mas foi naturalizada argentina – em nenhum outro lugar ela se desenvolve tão bem. O malbec argentino é rico, generoso, intenso. Um vinho de cor púrpura profunda, aroma agradável de violeta, chocolate e tabaco, com sabor marcante de frutas negras, impossível de não gostar.

Cabernet Sauvignon

Natural da região francesa de Bordeaux, onde precisa de muitos anos de envelhecimento para tornar-se palatável, a uva tinta cabernet amansou e amaciou sob o sol de Mendoza. Isso sem perder intensidade, caráter nem estrutura: muitos dos mais afamados vinhos argentinos são feitos com essa variedade.

Chardonnay

A uva branca que é símbolo da Borgonha, na França, também se adaptou muito bem ao solo argentino. Geralmente envelhecidos em barril, os vinhos dessa variedade são densos e apresentam aromas amanteigados, de abacaxi maduro e mel – notas adocicadas equilibradas pela acidez do vinho.

Bonarda

Uva italiana levada a Mendoza pelos imigrantes, é uma favorita do consumidor interno argentino. Direta e fácil de beber, a bonarda resulta em vinhos tintos ideais para ocasiões festivas.

Syrah

Fez fama na região francesa do Rhône e na Austrália. E faz bonito também na Argentina, onde seu sabor instigante – que remete a especiarias como noz-moscada e pimenta-do-reino – faz um contraponto bem interessante ao caráter frutado das outras variedades.

As regiões produtoras

Mendoza

Responsável por 84% do vinho que a Argentina exporta, é a mais tradicional de todas as regiões. O clima árido e o solo pouco fértil são ideais para o plantio de uvas irrigadas com a água cristalina que desce do degelo das montanhas andinas. Aqui a malbec encontra sua melhor expressão, mas as outras variedades (como cabernet sauvignon, chardonnay e syrah) também se desenvolvem magnificamente. As zonas de cultivo mais tradicionais são Maipú e Luyan de Cuyo, no planalto. Os produtores, entretanto, têm se deslocado para as encostas dos Andes, em sub-regiões como o Vale do Uco – de onde sai o Iscay, vinho superpremium da Trapiche – onde a altitude e a temperatura mais amena propiciam vinhos elegantes, sutis e complexos

San Juan e Salta

Ao norte de Mendoza, essas províncias do Cuyo (deserto na Argentina ocidental) compartilham o clima seco e o relevo montanhoso. A altitude é essencial para que as duas regiões entreguem vinhos maduros, porém com acidez marcante e complexidade de aromas. A malbec se adaptou perfeitamente a ambas as zonas – em especial às partes mais altas de Salta. Das terras saltenhas vêm também os melhores brancos da uva torrontés, com intenso aroma floral. San Juan produz alguns dos melhores syrahs da Argentina.

Patagônia

O sul do país, de clima frio e bem mais úmido que Mendoza, se especializou na cultura da uva pinot noir – típica da Borgonha, na França. Os malbecs desta região, mais claros que os mendocinos, são ótimo exemplo da ampla variedade de sabores do vinho da Argentina.

Mar del Plata

É no litoral, ao sul de Buenos Aires, que a Trapiche está revolucionando mais uma vez a indústria argentina de vinhos. Os ventos frescos e salinos do Atlântico aportam caráter único à linha Mar y Pampa – projeto pioneiro que já resultou em sete rótulos vendidos, por enquanto, apenas na Argentina. São uvas que se adaptam muito bem ao clima mais frio, como a riesling e a gewürtztraminer – que, como os nomes permitem deduzir, vêm da Alemanha.