Na reta final da escolha presidencial, uma onda de otimismo tomou os mercados e levou o principal índice da bolsa brasileira a renovar as máximas históricas e o dólar a recuar fortemente. A perspectiva é de manutenção deste cenário, na medida em que o presidente eleito anuncie membros técnicos para compor sua equipe econômica.

Isso pode contribuir para levar a taxa de câmbio a patamares próximos de R$ 3,50. Além disso, com o câmbio estável, a inflação abaixo da meta e o ritmo de recuperação econômica ainda lento, o Banco Central teria espaço para manter a taxa Selic em 6,5% ao ano por, pelo menos, mais um ano. Mas como se posicionar diante das mudanças até que as medidas concretas sejam anunciadas?

“Em gestão de fundos, não devemos olhar para o passado. Avaliamos nossas posições diariamente para oferecer as melhores opções de investimentos aos clientes”, afirma Gustavo Schwartzmann, superintendente executivo da área de Private Banking do Santander. Ele explica que, nos primeiros meses deste ano, a opção do Banco foi por reduzir exposição em renda fixa e na bolsa de valores e apostar em ativos de proteção. Atualmente as recomendações, de forma geral, são em multimercados e renda variável.

Esses movimentos refletem a importância de definir estratégias múltiplas e não engessadas, principalmente diante de um cenário político em formação. Também é de suma importância, de acordo com o superintendente executivo do Santander, avaliar o cenário externo para a tomada de decisão.

Menos é mais

O primeiro conselho dado por Schwartzmann aos investidores é buscar a orientação de profissionais com conhecimento profundo do mercado financeiro e fugir de assessores com um olhar voltado para os mesmos produtos, “que nem sempre são as opções mais adequadas aos clientes”. Apesar de sugerir que a escolha pelos melhores ativos seja feita individualmente, de acordo com o perfil e objetivos, o especialista ressalta que há boas perspectivas para investimentos em renda variável, à medida que a economia se recuperar.

Aline Sun, executiva da Guide Investimentos, segue a mesma linha e recomenda às pessoas físicas olhar para a Bolsa, os fundos imobiliários – que sofreram muito em 2018 e devem ficar aquecidos com a retomada econômica – e papéis ligados à inflação. “O mercado já incorporou um cenário desde o primeiro turno, com a vantagem do candidato agora eleito. Vimos a Bolsa se recuperando, o dólar caindo e a curva de juros fechando. Isso traz oportunidades na renda variável”.

Outro ponto que merece atenção dos investidores, de acordo com a executiva, é o mercado externo, que podem diversificar seu portfólio, inclusive para os de menor patrimônio. “Há cinco anos, só clientes do private banking tinham acesso a estes ativos, mas hoje o mundo está interligado, existem plataformas digitais que permitem operações com um clique e alta taxa de confiabilidade. Olhar para outros países pode ser feito partindo de mil reais”.

É importante citar que apesar de a tendência no curto prazo ser positiva, a volatilidade não pode ser descartada. Do lado do Brasil, os principais riscos para o próximo ano estão associados à execução da agenda de reformas junto a um Congresso pouco experiente e fragmentado. No front externo, o mercado irá acompanhar como será o ritmo da alta dos juros americanos, a trajetória de crescimento da economia chinesa e os desdobramentos quanto às discussões comerciais entre Estados Unidos e China.

Perfil é tudo

A dica do ouro, em qualquer cenário, é não se ater a tendências, que podem ser enganosas. “Um produto bom para mim pode não ser para você. O mais importante é definir o objetivo do investimento. Por exemplo, se for uma viagem no fim do ano, precisa ser conservador, afinal como arriscar um dinheiro que será usado em poucos meses? Agora, se é pagar a faculdade dos filhos em dez anos, a margem de erro pode ser maior”, afirma Aline.

Na Guide, os clientes são incentivados a criar subcontas para seus investimentos – para retiradas de curto, médio e longo prazos, com produtos que têm retornos correspondentes. “Facilita administrar os recursos conforme necessidades específicas e o nível aceitável de volatilidade, ou seja, de perdas. Ajuda a controlar a ansiedade quando você olha para o dinheiro com objetividade e prazo”.

Os riscos da emoção e os segredos do bom planejamento

O que é fundamental para organizar as finanças e fazer as melhores escolhas

“Esqueçam as eleições. Essa é a melhor recomendação”, afirma Aquiles Mosca, presidente do comitê de educação de investidores da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Segundo ele, a mentalidade de curto prazo só faz mal para os investimentos. O padrão de comportamento é fruto de muita disciplina e de um conhecimento profundo sobre o próprio perfil e desejos, que podem ser alcançados por qualquer tipo de investidor. “Informações financeiras são relevantes para o mercado, mas quem busca um planejamento financeiro pode se ater a um processo estruturado. Por exemplo: trocar o carro neste ano, comprar um apartamento em cinco anos, pagar um intercâmbio para o filho em 18, se aposentar em 30.”

Para Mosca, a maior parte das pessoas apenas acumula dinheiro, e não traça objetivos consistentes. “Isso não é investir, é guardar.” As próximas perguntas dão conta de estimar o grau de risco tolerado para compor a carteira, sempre acomodando oscilações e materializando o potencial de alta, que é a lógica por trás dos investimentos.

“Quem tem paciência e sangue frio consegue rendimentos melhores do que aqueles que buscam novas aplicações a todo momento, ao sabor da conjuntura.” O especialista remete o comportamento prejudicial ao passado inflacionário, que fazia os brasileiros pensarem sempre em curto prazo. “Em cenários de estabilidade, é possível ter previsibilidade.”