Acostumados a um cenário econômico de juros altos, os brasileiros nunca precisaram se preocupar muito com a sofisticação de sua carteira de investimento para obter um retorno suficiente, de baixo risco, atrelado aos juros altos. Mas agora, com a forte redução da taxa básica de juros, para manter o mesmo patamar de retorno, é preciso buscar alternativas. No “novo normal”, as aplicações de baixo risco remuneram muito pouco. “O cenário atual demanda mais estudo e diversificação da alocação”, afirma Paulo Colaferro, CFP®, vice-presidente da Planejar. De seu lado, o mercado também começa a exigir mais de todos os players, de gestores de fundos a desenvolvedores de soluções e produtos tecnológicos, que ajudam a gerir o dinheiro dentro dessa nova gramática financeira.
 
“Os fundos imobiliários despontaram, com rendimento acima de 20% em 2018, quando os juros já estavam caindo. Hoje, existem oportunidades beirando os 12%. Mas, para aproveitar, é preciso fazer uma gestão ativa e acompanhar o mercado. É preciso se especializar”, recomenda o executivo da Planejar. “O setor já é bastante profissional no Brasil, mas talvez não seja grande o suficiente para atender às demandas de serviço vindouras. As oportunidades de emprego devem aumentar para quem estiver preparado tecnicamente, compreendendo a gestão de risco e os novos produtos.”
 
Cuidado com os investimentos que parecem bons demais para serem verdade
 
O crescimento do interesse pelo mercado de capitais traz um efeito colateral: os novatos chegam com pouco conhecimento, muitas dúvidas e buscas por produtos que garantam alta rentabilidade. “O risco são as promessas mal intencionadas, desenhadas para captar esse investidor e aplicar golpes financeiros”, afirma José Alexandre Vasco, superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Ter cautela é fundamental para escapar de ciladas como pirâmides financeiras. O ideal é sempre checar se a oferta em questão conta com autorização dos órgãos reguladores. “Os criptoativos e as moedas virtuais (não regulados pela CVM ou pelo Banco Central) são uma realidade, e infelizmente têm sido usados, pela sua novidade, pela indústria de fraudes, alguns chegando à casa de centenas de milhões de reais. O chamariz são os retornos irreais. Como resultado, o canal de atendimento da CVM está sobrecarregado pelas consultas, reclamações e denúncias”, afirma Vasco. Há cerca de cinco anos, havia 50 processos referentes a ofertas irregulares tramitando no órgão ao ano. Em 2019 são 300, que podem envolver uma única pessoa ou dezenas de milhares de investidores. “Assistimos a isso com muita preocupação.” O superintendente da CVM recomenda atentar para ofertas que pressionam o investidor, impedindo perguntas ou até mesmo tempo para pensar na proposta. “Um bom teste é tentar explicar o investimento para outra pessoa. Se ele se sair bem nesse exercício, é porque provavelmente entendeu o investimento que escolheu.”