82% dos fumantes consideram trocar o cigarro por produto de risco reduzido

Pesquisa Datafolha amplia debate ao mostrar que brasileiros estão abertos a alternativas potencialmente menos nocivas à saúde

A maioria dos adultos fumantes (82%) optaria por uma solução potencialmente menos prejudicial à saúde do que o cigarro, enquanto 78% das 88 milhões de pessoas que convivem com indivíduos que fumam recomendariam tais opções a terceiros. No entanto, os produtos direcionados àqueles que não querem ou não conseguem mudar de comportamento são praticamente desconhecidos pela população, tendo em vista que a grande maioria (87%) não sabe ou nunca ouviu falar sobre eles. Essas são algumas das principais conclusões do primeiro estudo sobre o tema divulgado no Brasil. O levantamento mostrou ainda que 79% dos brasileiros, cerca de 122 milhões de pessoas, são favoráveis à liberação da venda de produtos de risco reduzido no País. É um dado em linha com a resposta de 80% dos entrevistados que concordam que os fumantes deveriam ter acesso a esses produtos. Órgãos internacionais como a Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, e a agência Public Health England, no Reino Unido, entendem que novas tecnologias de risco reduzido podem ter um papel importante na diminuição dos danos à saúde causados pelo cigarro, funcionando de maneira complementar às políticas públicas de cessação.

67%

da população concordam que os fumantes brasileiros deveriam ter o direito de comprar produtos de menor risco à saúde.

72%

não sabem que a venda do cigarro eletrônico e de produtos de tabaco aquecido é proibida no Brasil.

73%

são a favor de as empresas de tabaco terem autorização para vender produtos de risco reduzido.

80%

dos entrevistados concordam que os fumantes deveriam ter acesso a produtos de risco reduzido.

76%

dos fumantes querem trocar o cigarro para reduzir os problemas de saúde.

78%

dos não fumantes recomendariam tais alternativas a terceiros.

79%

dos brasileiros são favoráveis a que o governo permita o acesso aos produtos de menor risco.

Realizada em julho deste ano pelo Datafolha, a pesquisa encomendada pela Philip Morris do Brasil ouviu 1.982 pessoas de 18 anos ou mais (a maioria na faixa de 25 a 59 anos) distribuídas por 129 municípios de todas as regiões do País. Os entrevistados foram escolhidos com base na representatividade de gênero, renda e escolaridade da população brasileira segundo a PNAD 2016. A íntegra da pesquisa está disponível aqui.

Produtos de risco reduzido: alternativas, para adultos fumantes, potencialmente menos prejudiciais para a saúde do que o cigarro convencional. Não queimam o tabaco e não geram fumaça.

Alternativas menos nocivas

Um relatório do Parlamento Britânico, divulgado no último mês de agosto, aponta o cigarro eletrônico como uma alternativa potencialmente menos nociva aos fumantes não dispostos a abandonar o vício. De acordo com o documento, os usuários deixariam de inalar milhares de compostos químicos provocados pela combustão, muitos deles associados ao desenvolvimento de doenças relacionadas ao tabagismo. No Brasil, a comercialização desses produtos está proibida desde 2009.

Recentemente, 70 especialistas em saúde pública e ativistas antitabaco assinaram e entregaram uma carta aberta ao diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, onde pedem que sejam adotadas medidas mais positivas e menos restritivas com relação aos produtos de risco reduzido, uma vez que eles já demonstraram cientificamente ajudar na diminuição do número de adultos fumantes. Segundo os especialistas, as novas tecnologias oferecem ganhos significativos para a saúde pública, na medida em que “reduzem os riscos do tabaco” e contribuem para a diminuição de mortes prematuras por doenças não transmissíveis.

Abordagem pragmática

O Departamento de Saúde do Reino Unido atua desde o ano passado apoiado por um plano nacional que objetiva alcançar uma “geração livre de fumo”. Uma das metas é reduzir a prevalência do tabagismo entre adultos de 15,5% para 12% (ou menos) até 2022. Em paralelo, faz considerações sobre os cigarros eletrônicos. De acordo com o órgão, a melhor coisa que um fumante pode fazer pela sua saúde é parar de fumar. No entanto, diz o documento, há evidências cada vez mais claras de que os cigarros eletrônicos são significativamente menos prejudiciais à saúde do que o produto tradicional.

Japão, Alemanha e Canadá ampliam as discussões sobre as alternativas já existentes para reduzir os males do tabagismo. O posicionamento desses países é pragmático: considera que, mesmo tendo plena consciência dos danos causados pelo hábito de fumar cigarros, muitos ainda continuarão fumando. Para esses adultos fumantes, não podem ser negadas alternativas.

“Temos dialogado abertamente com a sociedade, órgãos reguladores e comunidade médica sobre a ciência e o papel dessas novas tecnologias que podem reduzir os danos à saúde causados pelos cigarros. Homens e mulheres adultos que continuarão fumando, por qualquer razão que seja, têm direito de ter informações e acesso a elas. Postergar essa discussão acaba indiretamente protegendo o mercado de cigarros e deixando sem alternativas as pessoas que não conseguem ou não querem parar de fumar”, afirma Fernando Vieira, diretor de Assuntos Corporativos da Philip Morris do Brasil.

“Espero que a classe médica se solidarize e invista nessa área”

A redução de danos esteve no centro do debate na TV Estadão. Com mediação da jornalista Mafê Luvizotto, a discussão entre o pneumologista Rodolfo Fred Behrsin e o publicitário Alexandro Lucian Alves Cordeiro dos Santos, criador do portal Vapor Aqui, abordou temas pertinentes ao interesse público, segundo aponta a pesquisa do Datafolha.

Para o médico, apesar de a nicotina criar dependência, os danos associados ao tabagismo são principalmente causados por substâncias tóxicas decorrentes da combustão do cigarro. Dessa forma, mecanismos que aquecem o tabaco em vez de queimá-lo poderiam representar um avanço para minimizar prejuízos. “Não é saudável, mas a gente começa a vislumbrar que talvez possa trazer menos danos para determinados pacientes”, diz ele sobre as pessoas que não querem ou não conseguem parar de fumar, apesar dos constantes apelos. Para aqueles obstinados a abandonar o vício, Behrsin recomenda tratamento farmacológico e terapia cognitiva comportamental.

Infelizmente a gente tem muita desinformação sobre cigarros eletrônicos no Brasil”

Alexandro Santos, publicitário e criador do portal Vapor Aqui

Santos se solidariza com pessoas que buscam produtos eletrônicos para entrega de nicotina, popularmente conhecidos como vaporizadores e cigarros eletrônicos, e considera imprescindível que o País discuta sua regulamentação. “Qual é a alternativa para essas pessoas? Atualmente, oficialmente, nenhuma. Infelizmente a gente tem muita desinformação sobre cigarros eletrônicos no Brasil”, diz.

Começamos a vislumbrar que talvez possa trazer menos danos para determinados pacientes”

Dr. Rodolfo Fred Behrsin, pneumologista

Behrsin pondera sobre a necessidade de haver pesquisas que comprovem os efeitos em 20 ou 30 anos. “Há realmente menor quantidade de substâncias tóxicas, mas a gente não tem uma avaliação de longo prazo dos vaporizadores.” Santos concorda sobre a importância da produção científica, mas pede urgência. “Espero que a classe médica se solidarize e invista nessa área, porque a gente precisa.”

Por fim, o publicitário lembra que, em outros países, as discussões avançam em ritmo acelerado. “Pesquisas fizeram a Inglaterra adotar o cigarro eletrônico como método antitabagismo já na sua rede pública de saúde. Elas indicam que os cigarros eletrônicos são pelo menos 95% menos prejudiciais do que os cigarros”, declara.

Assista aos melhores momentos do debate na TV Estadão

Referências:

Comentários