E isso deveria ser a base para análises e planejamentos de transporte e mobilidade urbana nas grandes cidades. Essas são apenas algumas das conclusões da tese de mestrado de Haydée Svab, pesquisadora em mobilidade urbana e ativista pela equidade de gênero e pelo direito à cidade. Sob a proposta de avaliar a existência de padrões de mobilidade diferentes entre os gêneros feminino e masculino, em 2016 Svab analisou os dados das edições de 1977, 1987, 1997 e 2007 da Pesquisa de Origem Destino do Metrô de São Paulo. É a série histórica mais longa disponível no Brasil.

 

A análise mostrou o que para muitos parece óbvio: a mulher ainda está relacionada com as questões de cuidados com a família. Por outro lado, identificou que, embora as pessoas do sexo feminino tenham jornadas de trabalho maiores do que as do sexo masculino, elas não são as que mais utilizam o automóvel. “Ao longo das últimas décadas, aumentou expressivamente a participação das mulheres no mercado de trabalho formal. Elas somaram isso às funções para reprodução social, que são aquelas associadas aos cuidados com filhos e idosos e à manutenção da casa”, analisa Svab. “No entanto, são elas as que mais utilizam os modos coletivos de transporte. Também são elas as que mais se deslocam a pé.”

Ainda ao avaliar os diferentes comportamentos entre pessoas dos sexos feminino e masculino, a especialista descobriu que as mulheres são mais abertas a mudanças. “A questão da sustentabilidade toca mais as mulheres, talvez justamente por elas se preocuparem mais em garantir o bem-estar e um futuro melhor para as próximas gerações”, afirma Svab. Outra questão comprovada por sua tese é que o trabalho e a educação são os principais motivadores de viagens pela cidade de São Paulo, por exemplo. “Significa que é preciso democratizar o acesso a estudo e trabalho sob a perspectiva dos meios de transporte”, diz a especialista. Ela explica que é necessário criar estruturas de escolas e mercado de trabalho próximas às regiões residenciais de pessoas das diferentes classes sociais.

Embora a solução não seja simples, uma coisa é certa, na visão de Svab: é impossível dissociar o planejamento de transporte e o projeto urbano. “Pensar que o problema de trânsito será solucionado apenas com um sistema de transporte eficiente não funciona”, avalia. “As coisas precisam estar mais próximas das pessoas, em todas as regiões. A cidade inteligente e possível é aquela em que as pessoas conseguem chegar aos seus destinos.”