Grande parte dos profissionais que está atualmente no mercado sonhava com alguma outra profissão na infância. Não é raro encontrar futuros bombeiros e médicos entre as crianças. Normalmente, esses sonhos vão se desfazendo ao longo da infância e se transformando em desejos mais realistas. Em outros casos, isso não acontece senão às vésperas do vestibular, o que deixa muitos pais de cabelos em pé em relação ao futuro de seus filhos.
Mas a escolha tardia da profissão não significa que ela seja mal feita. Ao contrário, em alguns casos, isso pode significar o final de um processo de amadurecimento, culminando em um curso que será abraçado pelo resto da carreira do jovem.
Foi o caso de Catarina Squillante Pereira de Almeida, 21 anos, que hoje está no último ano do curso de Administração da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) no interior de São Paulo. Durante toda a infância, ela sonhava ser veterinária e carregou essa opção até bem próximo da época de prestar o vestibular. Ela pondera que, quando criança, não tinha muita noção de como a profissão funcionava na vida real.
“Eu pensava em ser veterinária porque eu gostava de animais: queria ser para ter bastante contato com animais. Mas uma coisa é gostar de animais e outra é estudar patologia, citologia, anatomia, ir todos os dias para uma clínica e lidar com animais doentes”, afirma. Catarina mudou de ideia quando pesquisou a grade curricular e leu sobre as matérias que deveria estudar.
Descartada a veterinária, ela começou uma nova pesquisa, agora em busca de um novo curso. Para isso pesquisou universidades e cursos. Nesse processo, em que descobriu alguns cursos nem sabia existir, selecionou alguns. O passo seguinte foi conhecer as matérias de cada um deles e a opção escolhida acabou sendo Administração.
“O curso me atraiu por ser dinâmico e oferecer diversas oportunidades de trabalho, com vagas em áreas que vão dos Recursos Humanos até Tributária, Financeira e Comercial”, explica. Ela afirma que, na hora da decisão, é importante tentar imaginar como será o dia-a-dia do profissional e foi isso que a fez mudar de ideia.
Sobre o acerto da escolha, Catarina está certa de estar mais feliz do que se fosse veterinária. “Me apaixonei pelo curso. Não só pelo conteúdo, mas pela possibilidade de poder aplicá-lo no meu trabalho”, revela. E ela não deve parar por aí. Como gostou da área financeira, Catarina pensa em iniciar em seguida o curso de Contabilidade. “O estudo não pode acabar. Não me imagino só trabalhando e sem estudar”, diz.
Ana Claudia de Souza Queiroz, de 24 anos, é outro exemplo de escolha tardia, e acertada, de profissão. Ela conta que sempre sonhou em estudar Propaganda e Marketing. “Tinha vontade de fazer o curso, mas não lidava bem com a parte de criação”, conta. Como na época do vestibular não havia os cursos separados, ela decidiu fazer um curso tecnólogo em marketing. Foram dois anos que a ajudaram a perceber que ela queria trabalhar com pesquisa em marketing, mas ainda não havia 100% de certeza.
“Com eu queria fazer faculdade pública, fiz um ano de cursinho. Nesse período fiz um teste vocacional e acabei optando pelo curso de Administração”, diz. Hoje cursando o último ano na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ana Claudia diz que a escolha se deu pela abrangência do curso, que lhe permitia atuar em diferentes áreas como marketing, qualidade e controladoria. Além disso, ela afirma que o tempo passado no curso tecnólogo e no cursinho foi fundamental para a consolidação da escolha.
“Quando a gente sai do colégio tem uma pressão e as vezes ficamos perdidos sobre o que fazer. Esse tempo me permitiu analisar minhas escolhas e verificar se era o que eu realmente queria. Com isso a possibilidade de acertar é muito maior”, diz. Ela agora se prepara para fazer uma especialização na área de gerenciamento de projetos e, depois, algum curso voltado para marketing.
Outro que optou na última hora foi Yagho Abrahao Prudente de Toledo, de 24 anos. Ele recentemente concluiu os cursos de Relações Internacionais e de Economia, mas chegou às vésperas do vestibular convicto de que faria Direito. “Meses antes eu participei de uma olimpíada de conhecimentos gerais promovida pelas Faculdades de Campinas (Facamp). Fui para a fase final, que era em Campinas, conheci a faculdade e descobri que havia esse curso de Relações Internacionais, que permitia uma formação em Economia depois”, conta.
Além do curso, ele descobriu uma série de matérias em comum com Direito e a vantagem em contar com um campo de trabalho maior e menos concorrência. Depois de pesquisar e conversar com colegas e professores, fez a mudança. Mas essa não foi a única.
Uma vez na faculdade, Yagho pensava em se tornar diplomata. Ele lembra que este é o desejo de 80% dos alunos do primeiro ano do curso de Relações Internacionais e que este percentual se inverte no último ano. “Você descobre que nanaão é uma carreira muito técnica, em que pesa muito a questão política”, diz. Além disso, ele sonhava com algo muito mais dinâmico. Hoje Yagho trabalha na área de Controladoria da Siemens. “Descobri em mim algumas habilidades que eu não imaginava que tinha e trabalho com temas novos, é fantástico”, conclui.