A sociedade está mudando e, com ela, o mercado de trabalho. Nestes novos tempos, a dica dos especialistas em carreira para ser o profissional que o mercado brasileiro busca não é focar apenas na formação acadêmica, mas procurar aprender o máximo possível em diferentes áreas das empresas e com as outras gerações. Isso porque 65% das profissões que irão movimentar o mercado em 2030 ainda não foram inventadas.
Isso significa que a formação é importante, mas tanto ou mais que os conhecimentos específicos, o como fazer e a capacidade em utilizar pontos de vista interdisciplinares são as habilidades que permearão estas profissões. Um bom exemplo disso está no pensamento computacional, ou a capacidade de traduzir grandes quantidades de informação em conceitos abstratos e compreender o raciocínio com base nos dados e colaboração virtual, que é a capacidade de trabalhar de forma produtiva e alcançar resultados mesmo a distancia.
Adaptar-se e desenvolver estas habilidades tem lá seus desafios. Afinal, os números já são conhecidos: cerca de 30% das funções de trabalho de hoje não existiam há dez anos. E, nesse contexto, profissionais do mundo todo continuam procurando desenhar suas carreiras.
Se as dúvidas existenciais que sempre os cercaram nas últimas décadas não são diferentes hoje, o cenário futuro torna esse quebra-cabeça ainda mais complexo. “A boa notícia – e a má notícia – é que hoje existem presidentes de grandes empresas, inclusive no Brasil, que cursaram outras faculdades que não eram tradicionalmente pensadas para formar executivos”, diz Leonardo Trevisan, professor dos programas de pós-graduação em Administração e Economia da PUC-SP. Impensável ha algumas décadas, hoje temos exemplos de pessoas formadas em filosofia, ciência sociais ou biológicas dirigindo instituições financeiras, grandes empresas ou startups. “O problema não está mais no curso em que você se formou, mas em como se formou e qual a continuidade que pretende dar aos estudos”, acrescenta o professor, lembrando que a maioria das faculdades oferece dois anos iniciais de formação mais genérica aos alunos e que, em geral, os próprios estudantes negligenciam esses anos que poderão ser determinantes para sua carreira no futuro.
O fato é que, quando se fala dos profissionais que o Brasil precisa, os estudos sempre apontam para as mesmas direções – faltam engenheiros, estatísticos, profissionais de finanças e contabilidade, TI, logística e vendas. “O que eu tenho percebido é que, em geral, quem sobe mais rápido na carreira é aquele que é flexível, que quer aprender mais sobre a empresa, que sabe ouvir e tem projetos de longo prazo”, afirma Trevisan, lembrando tratar-se do profissional que melhor apreende as novas habilidades citadas.
Ruy Shiozawa, presidente da empresa de pesquisa e consultoria Great Place to Work (GPTW) no Brasil, concorda com Trevisan e vai além: “As áreas de recursos humanos estão fazendo mudanças significativas na forma de selecionar seus funcionários justamente para não priorizar apenas aspectos técnicos e acabar negligenciando o conjunto de características que é determinante para o sucesso do profissional na empresa, que são as habilidades sociais e o alinhamento com a cultura e os valores da corporação”. O lado bom desse novo modelo de seleção é que existem empresas de todos os perfis e culturas e, para os candidatos a jovens executivos, o mais importante é investir no autoconhecimento para ele mesmo não acabar se envolvendo em uma empresa com poucas afinidades e se frustrando.