Por definição, um programa de trainee tem o objetivo de captar, desenvolver, estimular e reter indivíduos de alto potencial, em início de carreira, selecionados com o objetivo de prepará-los para assumir posições estratégicas no futuro. Por isso mesmo, esses programas costumam atrair jovens em busca de oportunidades para se desenvolver e crescer profissionalmente.
Embora o intuito seja o mesmo, ele pode ser alcançado de diferentes formas, dependendo do tamanho, da cultura e da estrutura de cada empresa. Para entender melhor o impacto que o programa pode ter na vida de jovens profissionais, dois deles foram ouvidos, mostrando que diferentes experiências podem levar ao mesmo resultado.
Breno Jácomo de Freitas tem 30 anos e há oito trabalha na Siemens. Engenheiro de Automação e Controle formado pela Unesp de Sorocaba, ele começou na empresa em 2008, como estagiário. No ano seguinte foi efetivado e, em 2013, entrou no programa de trainee da companhia. Ele explica que, no caso da Siemens, o programa é voltado somente para os funcionários da companhia. “Há características bem restritas. O processo é rigoroso e, se você não passa, não pode prestar de novo, porque entende-se que você não tem o perfil”, conta.
Por isso mesmo, ele procurou se preparar bem antes de concorrer a uma vaga. Breno se inscreveu quando já tinha três anos de formado e estava concluindo seu MBA. “Na época, éramos 23 trainees, o maior número que a Siemens já teve”, revela. Uma vez aprovado, o profissional passa por um processo de integração, ao mesmo tempo em que todas as áreas da empresa inscrevem projetos que devem ser realizados pelos trainees, que não podem escolher projetos relacionados às suas áreas de atuação.
Para a realização, são montadas duplas de acordo com as áreas escolhidas e com os perfis dos candidatos, que devem ser complementares. A partir daí são realizados dois encontros mensais para a realização de treinamentos, que podem ser os já existentes na Siemens ou contratados especificamente para o programa. Breno revela que esse período é um dos mais ricos do programa. “Abre muito a nossa cabeça sobre tudo o que a empresa faz”, comenta, lembrando que nesse processo chegou a passar uma semana em Boston participando de um treinamento sobre empreendedorismo.
Ao mesmo tempo, essa etapa traz muito trabalho. O projeto escolhido deve ser realizado em paralelo às funções originais do profissional, o que segundo Breno significa trabalhar em 150% de sua capacidade. Mas as conquistas compensam. “Fazemos um network muito forte. Durante o programa, há o acompanhamento do RH, encontros com executivos locais e globais, etc.”, ressalta.
Breno conta que, por um ano, os jovens profissionais ficam na vitrine da empresa, interagindo com pessoas e áreas diferentes. Ao final do processo, todos participam de uma Feira de Projetos, em que seus trabalhos são apresentados para todo o board da Siemens no Brasil. “Foi o programa que me permitiu expor meu potencial na vitrine da companhia. A pressão é grande: temos que entregar os resultados de nossa área e também do programa, mas a exposição também”, compara.
Para Breno, hoje Engenheiro de Vendas da Digital Grid, sua participação no programa foi decisiva para as transições que ele fez na companhia. “O programa lhe mostra todas as ferramentas para que você tenha uma carreira bem traçada dentro da empresa”, diz.
Aos 27 anos, Beatriz Kyrillos é advogada associada no escritório Dias Carneiro Advogados. Ainda no final da faculdade, ela passou por um estágio em outro escritório, mas nas suas palavras “ali apenas arquivava pastas”. O contato de fato com a profissão veio na atual empresa.
“Fiquei sabendo que havia uma vaga no programa deles e isso me interessava muito”, lembra. Ela foi indicada por uma amiga que já trabalhava lá e a vaga foi conquistada depois de uma entrevista com a área de Recursos Humanos e outros departamentos, com os sócios do escritório e com os advogados mais antigos.
“O programa exigia inglês fluente. Eu já falava, mas depois que fui aceita prestei o TOEFL e passei, garantindo a vaga”, conta. No programa, Beatriz lembra de ter tomado contato de fato com as atividades cotidianas da profissão, com ir ao fórum ou acompanhar os advogados mais velhos em reuniões com clientes. Seu progresso era supervisionado por meio do lançamento das horas trabalhadas em cada caso e das tarefas executadas em cada um deles. “Era uma forma de eles acompanharem meu trabalho”, diz.
Depois de dois anos, ela foi efetivada como assistente jurídico. “Minha efetivação foi uma evolução. O programa me permitiu trabalhar com a matéria que eu queria – insolvência e reestruturação de empresas. Conheci muita gente legal, o que me permitiu ter certeza de que eu estava no caminho certo. Foi o primeiro passo para continuar caminhando”, comenta.