A preocupação cada vez maior com a sustentabilidade e a eficiência tem levado esses conceitos a se expandirem além da manutenção e preservação do legado já existente. Essa expansão chega também à arquitetura, que começa a se preocupar com a adoção de métodos construtivos que sejam ambientalmente amigáveis e também com a inclusão, em seus projetos, de soluções que garantam que aquela edificação permanecerá assim por muitos anos.
Quando se fala em construção, começam a se popularizar técnicas como a bioconstrução, que procura criar casas sustentáveis e autossuficientes utilizando sistemas simples e de baixa tecnologia. O conceito é o foco do projeto Earthship Biotecture, elaborado pelo norte-americano Michael Reynolds.
Ali, as casas são feitas com materiais reutilizados e todas elas possuem sistemas de aproveitamento de calor e produção de energia limpa. Esses cuidados reduzem drasticamente os impactos da obra, quando comparada às tradicionais, aumentam a eficiência e promovem a independência energética.
Apenas no estado norte-americano do Novo México, onde o projeto está situado, já existem mais de 15 residências sustentáveis feitas com materiais reaproveitados, como pneus, garrafas, latas e argila. As técnicas de bioconstrução aplicadas nos projetos de Earthship estão diretamente ligadas às formas mais antigas e tradicionais de construção. Atrelado a isso estão os cuidados com os elementos naturais em todas as fases da obra, para que recursos como a luz solar e a ventilação natural sejam totalmente priorizados.
Para disseminar o conceito de bioconstrução, o Earthship possui cursos e oficinas presenciais de construção. Mas qualquer pessoa pode acessar o material didático no próprio site do projeto para aprender a trabalhar com os recursos e entender tudo o que é necessário para construir, sozinho, uma casa sustentável. As técnicas ainda incluem projetos de residências com agricultura orgânica, reuso e tratamento de água e resíduos. As possibilidades são inúmeras e variam de acordo com as necessidades e condições de cada local.
Tecnologia e certificação
As alternativas vão muito além. Assim como os materiais reciclados, a tecnologia também pode ser uma grande aliada nas construções eficientes e, para isso, já há no mercado uma série de soluções desenvolvidas para este fim. A Siemens, por exemplo, por meio de sua divisão Building Technologies, fornece uma série de soluções de automação para construções comerciais, industriais e públicas.
As aplicações cuidam de desde a operação das edificações até sua segurança, passando por áreas como automação, conforto e segurança. Os produtos e serviços foram desenvolvidos para otimizar custos de energia, confiabilidade, conforto e desempenho de edifícios, atendendo padrões ecológicos e de sustentabilidade.
Entre as soluções estão, por exemplo, um grande portfólio de componentes, produtos e serviços para controle de unidades de HVAC (da sigla em inglês, Heating, Ventilation and Air Conditioning); serviços de gerenciamento de energia, com análise de consumo e implementação de medidas de eficiência; produtos de segurança para detecção, alarme e implementação de processos de evacuação; e consultoria, planejamento, desenvolvimento e implantação de soluções de automação e segurança para edifícios e infraestrutura.
O uso de novos conceitos e soluções tem ganhado tanta importância que o Green Building Council Brasil criou um selo, chamado Referencial GBC Brasil Casa. Ele foi desenvolvido pelo Comitê Técnico da entidade, formado por profissionais das empresas associadas, professores universitários e gestores públicos convidados, totalizando cerca de 200 voluntários.
O Referencial fornece as ferramentas e o conhecimento necessário para projetar, construir e operar residências e edifícios residenciais que possuem alto desempenho econômico, social e ambiental. Ele tem os seguintes objetivos:
• Capacitação e qualificação profissional por meio da retomada de conceitos de arquitetura sustentável, facilmente aplicada a projetos e obras;
• Disseminar os conceitos de sustentabilidade para o mercado da construção civil residencial e para toda a população brasileira, para que possuam posicionamento e visões mais críticas e objetivas sobre o tema;
• Construir casas com melhor desempenho energético, consumos eficientes, maior conforto térmico, ambientes internos saudáveis, que reduzem o impacto no meio ambiente utilizando menos recursos naturais e evitando o desperdício;
• Acabar com a ineficiência de sistemas obsoletos e melhorar o planejamento das construções de forma a reduzir a perda financeira;
• Fomentar incentivos fiscais e políticas públicas para a construção de residenciais sustentáveis, que atendam a
todos os padrões de edificação, incluindo os diversos âmbitos de governo;
• Elevar o padrão técnico do mercado residencial, tanto para profissionais quanto para o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias sustentáveis, incentivando a pesquisa nesta área;
• Combater a informalidade do mercado da construção civil sustentável brasileira, formalizando contratações de operários e garantindo obras de melhor qualidade e com menor risco.
A preocupação com o tema parece ter chegado também às esferas governamentais. Em maio deste ano, foi aprovado o Projeto de Lei do Senado (PLS) 252/2015, que beneficia com incentivos fiscais a construção de imóveis que prevejam medidas para melhorar o conforto térmico dos usuários e propicie a redução do consumo de água e maior eficiência energética. A ação foi tomada na Comissão do Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA). A proposta, agora, será analisada em Plenário.
Segundo o texto, a utilização de práticas sustentáveis de construção poderá ser incluída como diretriz da política urbana prevista no Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001). Para o projeto, as novas edificações de propriedade da União devem adotar medidas para a redução dos impactos ambientais, desde que sejam técnica e economicamente viáveis.