Diversidade e riqueza no coração do Brasil

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Em seus mais de 200 milhões de hectares, o Cerrado brasileiro guarda uma das mais ricas biodiversidades do planeta. Ocupando 21% do território nacional, o bioma possui 11 formações diferentes e cerca de 4800 espécies endêmicas ( seja, que só se encontram nessa localidade) – muitas delas sob risco de extinção.

Mas, nas últimas décadas, a história de desenvolvimento da região tem sido estreitamente ligada ao crescimento da agricultura e da pecuária. A pergunta hoje é como criar, de forma rápida, uma convivência pacífica entre preservação e crescimento econômico.

Em seus mais de 200 milhões de hectares, o Cerrado abriga umas das biodiversidades mais ricas do planeta e umas das maiores áreas de plantio de grãos e de pecuária no Brasil.

Uma joia no coração do Brasil

Segundo maior bioma da América do Sul, dono de uma das mais ricas biodiversidades do mundo, o Cerrado é um paraíso ainda desconhecido por grande parte dos brasileiros

São mais de 200 milhões de hectares que se espalham pelos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal - aproximadamente 21% do território nacional. Com uma das biodiversidades mais ricas do planeta, o Cerrado possui cerca de 4800 espécies endêmicas, ou seja, que só se encontram nessa localidade – muitas delas sob risco de extinção.

Cerca de 75 milhões de pessoas vivem no Cerrado, um número que corresponde a 1/3 da população brasileira. E para quem tem suas raízes na região, ele representa muito mais do que um simples bioma. Filho de mato-grossenses, o premiado chef de cozinha Alexa Atala é um dos muitos apaixonados pela riqueza do local. Segundo ele, a variedade de frutas, verduras e ervas na região é gigantesca. “A gente precisa entender, viver, olhar e experimentar o Cerrado. Quando falada, a palavra biodiversidade muitas vezes não tem valor, mas ela ganha valor quando é provada. Por isso precisamos provar o Cerrado”, afirma.

Reconhecido como a savana mais rica do mundo, esse bioma possui 11 tipos de formações diferentes. “Tem de tudo dentro do Cerrado! Podemos encontrar desde áreas de campo nativo até formações de florestas. Ele é o bioma que faz a ligação entre os demais existentes no País e fundamental para manter o equilíbrio climático”, explica Francisco Beduschi Neto, especialista em agricultura sustentável da National Wildlife Federation (NWF), uma organização da conservação e educação ambiental.

Para quem imagina o Cerrado como um grande descampado ou que abriga somente extensas áreas de pastos e plantações, vale lembrar que pelo menos dois parques fazem parte do patrimônio mundial da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura): o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros (GO) e o Parque Nacional das Emas (GO). Além deles, também integram esse bioma o Parque Estadual do Jalapão (TO), o Parque Nacional da Serra da Canastra (MG), o Parque Nacional Chapada das Mesas (MA), o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães (MT), entre muitas outras belezas nacionais.

“Esse é um bioma ainda pouco estudado, sobre o qual temos muita coisa para aprender”, diz o engenheiro agrônomo e produtor rural José Eduardo Macedo Soares, paulistano radicado no Mato Grosso desde a década de 1980. “Gosto dos biomas naturais, dessa natureza, da diversidade de plantas e animais. Na minha propriedade tivemos a oportunidade de fazer um trabalho respeitando a mata nativa, deixando as reservas bem planejadas. Acho muito importante essa consciência do produtor”, diz.

Cerca de 199 espécies de mamíferos vivem na região.

Raio-x do Cerrado

Cerca de 200 espécies de mamíferos
837 espécies de aves
11.627 espécies de plantas nativas
Estima-se que 20% das espécies nativas e endêmincas já não ocorram em áreas protegidas
Pelo menos 137 espécies de animais estão ameaçadas de extinção
*Fonte: Ministério do Meio Ambiente

Conhecimento e preservação

Uma pesquisa coordenada pela NWF em agosto de 2018 sobre o desmatamento dos biomas no Brasil mostra o Cerrado na quarta posição em familiaridade e avanço do desmatamento, sempre com Amazônia, Mata Atlântica e Pantanal a sua frente

O Cerrado possui mais de 200 milhões de hectares que se espalham pelos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal - cerca de 21% do território nacional.

A percepção dos brasileiros

Apesar de se espalhar por grande parte do território brasileiro, o Cerrado ainda é um grande desconhecido de grande parte das pessoas.

Familiaridade com o bioma

Onde o desmatamento mais avança

Das 2 mil pessoas entrevistadas em todo o Brasil:

93% dizem que o desmatamento é um tema importante, mas somente 46% se informa sobre o tema
66% consideram que a agricultura exerce um impacto positivo no meio ambiente
57% preferem comprar de produtores que se preocupam com o impacto ambiental
55% afirmam que o maior inimigo do Cerrado é o desmatamento
53% acreditam que o Cerrado é um bioma que corre o risco de desaparecer
Segundo o Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), de 2013 a julho de 2015, o cerrado teve 1,9 milhão de hectares desmatados - um ritmo cinco vezes mais rápido que o medido na Amazônia.

A busca do equilíbrio entre conservação e produção

O Cerrado concentra hoje umas das maiores áreas de plantio de grãos e pastagens do Brasil, mas com a conservação do bioma em perigo, agricultores e pecuaristas buscam técnicas mais sustentáveis

De agosto de 2013 a julho de 2015, o cerrado teve 1,9 milhão de hectares desmatados - um ritmo cinco vezes mais rápido que o medido na Amazônia - perdendo mais de 1,7% de sua vegetação nativa remanescente. Os dados são de um estudo encomendado pela NWF em 2017 e mostram a urgência de uma busca pelo equilíbrio entre produção e conservação na região.

Há uma grande expansão do agronegócio dentro do bioma Cerrado porque o bioma apresenta condições de clima e solo muito propícias para soja, milho e pecuária, segundo Francisco Beduschi Neto, especialista em agricultura sustentável da NWF. “O Cerrado responde por 52% da soja plantada no Brasil e é muito importante para o País, tanto para balança comercial e PIB, como na geração de renda e de empregos. Por isso, é preciso buscar meios para conservar essa biodiversidade e estimular o desenvolvimento econômico da região”, diz.

O Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de grãos, sendo que o Cerrado corresponde a 52% da soja plantada no País.

Celeiro do Brasil

O País é um dos maiores produtores de grãos do mundo. Segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), a estimativa de produção para a safra 2018/19 foi de 237,3 milhões de toneladas, crescimento de 4,2% sobre 2017/18. Desses números, fazem parte Mato Grosso e Goiás (respectivamente primeiro e quarto lugar entre os maiores produtores de soja).

A expansão agrícola e pecuária, que ocorre no Cerrado desde a década de 1980, colocou o Brasil como destaque mundial nesses setores. Mas a devastação da vegetação levou à perda de qualidade do solo, e agricultores e pecuaristas passaram a perceber a importância da preservação do bioma para a sustentabilidade de seus negócios. O sistema de rotação entre milho e soja que ainda predomina no Brasil causou uma estagnação na produtividade da soja desde o início dos anos 2000. “Observando esse problema, muitos produtores têm introduzido uma forma de cultivo mais sustentável, trabalhando com cinco culturas comerciais e outras doze de cobertura”, diz o engenheiro agrônomo e produtor rural, José Eduardo Macedo Soares.

Hoje, cerca de metade da área do Cerrado já corresponde a lavouras de grãos e pastagens.

Solo mais fértil, menos desmatamento

Preservar a floresta e aumentar a produtividade de forma sustentável é perfeitamente viável. “Com integração lavoura/pecuária, há um ganho enorme de produção hectare. Ao trabalhar com agricultura mais intensiva – muitas propriedades produzindo grãos e carne na mesma área - vamos conseguir suprir as necessidades mundiais de alimento sem aumentar a área de plantio”, afirma José Eduardo. E a conscientização do produtor, de uma maneira geral, tem melhorado muito. Segundo Roberto Aguiar, engenheiro agrônomo e pecuarista nascido e criado no Mato Grosso, a agricultura está avançando muito nas áreas de pasto degradado e que hoje estão mal aproveitadas. Com um manejo melhor da propriedade, é possível colher com mais eficiência, aumentar o ganho de peso do animal de forma mais saudável e aumentar a produtividade. “Essa mudança está tão interessante que até meu pai – também pecuarista – está seguindo meu exemplo”, afirma.

Com a conservação do bioma em perigo, a nova geração de agricultores e pecuaristas parte em busca de técnicas produtivas mais sustentáveis.

A busca pelo desenvolvimento sustentável

O grande desafio do Cerrado está em encontrar um equilíbrio entre a preservação e a produção econômica da lavoura e da pecuária

Espalhado por 11 estados, além do Distrito Federal, o Cerrado ocupa uma área de 200 milhões de hectares no Brasil, sendo que desse total, cerca de metade corresponde a lavouras de grãos e pastagens. Com uma população de 75 milhões de pessoas, uma história de crescimento econômico fortemente ligada à agropecuária e um dos biomas mais ricos do País, o Cerrado busca uma convivência pacífica entre o crescimento e a preservação. Mas as formas para alcançar esse equilíbrio ainda são tema de discussão entre produtores e ambientalistas.

Na visão do chef de cozinha Alex Atala, fã declarado dos sabores e da diversidade do Cerrado, é impossível falar da região sem pensar na riqueza de sua biodiversidade e, ao mesmo tempo, na força da agropecuária. “Não tenho dúvida que a melhor forma de proteger o cerrado é dar uso para ele. E a agricultura é um caminho”, diz. Segundo ele, o desafio é grande, mas a resposta precisa ser construída em conjunto. “Os filhos de agricultores tradicionais já estão praticando uma agricultura caracterizada pela integração, pelo equilíbrio e pela preservação do meio ambiente e trazendo novas áreas verdes para a região”, diz.

Esse entendimento é compartilhado pelo engenheiro agrônomo e pecuarista Roberto Aguiar. Nativo da região e de uma família de produtores, ele acredita que, com as novas tecnologias, o desmatamento deve fazer parte do passado. “Agora, com uma melhor conservação do solo, temos mais qualidade no pasto e, consequentemente, um aumento na produtividade”, diz. Um bom exemplo é a integração Lavoura - Pecuária – Floresta, iLPF, tecnologia que tem sua eficácia já comprovada pelo Embrapa.

Outro ponto interessante é que as fazendas que possuem maior área de conservação também têm um maior controle natural das pragas e dos vetores de doenças dessas lavouras, reduzindo a necessidade do uso de agroquímicos. “Conservar sempre vai trazer benefícios. O que a gente precisa é buscar o ponto de equilíbrio”, completa Francisco Beduschi Neto, especialista em agricultura sustentável da NWF (National Wildlife Federation).