Impulso para mudar de vida

Apesar das idades e perfis diferentes, Telma Maria Pereira, LuQuinha Figueiredo e Rosângela Fortes têm muito em comum. São mulheres que enfrentam qualquer obstáculo para concretizar seus planos e sonhos. Com a ajuda de programas da Prefeitura de São Paulo, Telma conseguiu tirar seu ateliê do vermelho, LuQuinha voltou a se alegrar com novos projetos na área da jardinagem e Rosângela deixou de dormir todo dia no Terminal Grajaú, esperando o dia amanhecer para pegar o transporte que a leva pra casa, e agora pode passar mais tempo com o filho. Inspire-se na trajetória dessas três guerreiras que mudaram o rumo de suas vidas.

O detalhe que faltava para decolar
Estilista de sucesso com mais de 30 anos de experiência em alta moda, Telma precisou investir em conhecimentos de gestão para fazer seu ateliê crescer

A empreendedora Telma Maria Pereira, de 47 anos, cresceu vendo sua avó Julia driblar problemas de visão para costurar arranjos de casamento na cidade de Nossa Senhora da Glória, no sertão sergipano, onde morava toda sua família. “Ali eu soube que queria ser estilista”, diz ela. Desde então, esse sonho sempre a acompanhou. E foi com Telma até São Paulo, para onde ela se mudou aos 8 anos junto com seus quatro irmãos e a mãe, que veio tentar a vida na capital paulista. A garra herdada das duas mulheres da família a ajudou a batalhar para se tornar estilista.

Aos 15 anos, Telma começou a trabalhar como auxiliar de costura numa confecção no Bairro do Brás. Três anos depois fez um curso de estilismo e moda e com 22 anos inaugurava seu primeiro ateliê na Vila Medeiros, na Zona Norte, ocupando dois cômodos da casa onde moram ela, o marido, as duas filhas e a sogra. Não demorou muito para ela começar a ficar conhecida na vizinhança. “Eu vivia com meu ateliê cheio de clientes, mas estava sempre no vermelho”, conta. Ela aprendeu que não bastava ter um sonho e talento para decolar. Era preciso adquirir mais capacidade de gestão para viver do que sempre amou.

Em 2016, tomou uma decisão radical: fechar as portas do ateliê para parar de perder dinheiro. Ficou um ano negando pedidos a clientes antigos e quase foi derrubada por uma depressão. Mas foi a partir desse momento de desespero que sua vida deu uma guinada.

Para se reerguer, Telma decidiu se aperfeiçoar. Participou de um curso de coaching e gestão e depois conheceu o programa Mais Mulheres, uma iniciativa da Ade Sampa, entidade vinculada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE), que promove a qualificação de mulheres empreendedoras na capital paulista. Lá aprendeu como precificar seu produto, a fidelizar clientes, a gerenciar fornecedores e controlar recursos e ainda teve lições de contabilidade. Foi o que ajudou a tirar o ateliê do vermelho. “Muita coisa eu já sabia na teoria, mas o projeto nos obriga a colocar o conhecimento em prática e é aí que a gente aprende de verdade”, conta ela, que terminou o curso em dezembro de 2018.

Com a troca de ideias e experiências com as outras empreendedoras e com os mentores do programa, ela conseguiu entender onde estavam seus gargalos. “Eu tinha tudo o que eu precisava para montar meu negócio, menos conhecimento de gestão. E era isso que me derrubava”, afirma.
Depois do programa, ela conseguiu atacar problemas que sempre lhe geravam dores de cabeça. Agora ela tem ferramentas para não perder todo o investimento feito na capacitação das costureiras caso elas deixem o ateliê depois de formadas, para pensar em como cobrar horas de trabalho de peças mais complexas e como se especializar no segmento de moda sustentável com mais segurança.

Bem mais rentável, este novo nicho de mercado emprega apenas materiais orgânicos, como seda e algodão produzidos de forma artesanal. “Um vestido de casamento sustentável é 30% a 40% mais caro de que um modelo de festa feito com tecidos tradicionais e o interesse nesta moda é crescente”, diz. “Eu tenho conhecimento nesta área e até já ganhei prêmios com um vestido de noiva sustentável”, conta Telma.

Com mais conhecimento em práticas de gestão, Telma também conseguiu colocar no papel metas e planos de ação concretos para viabilizar seu projeto de expansão. “Até o final do ano quero montar meu ateliê num local de mais visibilidade”. Daqui a três anos, quer instalar seu negócio numa casa exclusiva e própria e, em cinco, pretende fazer um desfile em Paris. “Se a cidade de São Paulo e o País tivessem mais programas como esse, com certeza teríamos mais empreendedores bem-sucedidos e isso seria um motor de crescimento importante para a sociedade”, conclui Telma.

Planos que brotam da terra
Um curso de jardinagem da Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura da Paz (UmaPaz) ajudou a bióloga Lucia Figueiredo a cultivar de novo a alegria de viver

A bióloga Lucia Figueiredo, de 60 anos, já perdeu as contas das vezes em que foi chamada de “maluquinha”. Culpa do seu jeito cheio de energia e arrojado que virou sua marca registrada e que ela incorporou ao seu nome profissional: LuQuinha Figueiredo. Dona de um bom humor contagiante, essa paulista nascida na cidade de Assis, interior do Estado, coleciona histórias que comprovam quantas vezes ela se reinventou na vida.

Professora de piano para jovens com deficiência por quase três décadas, ela resolveu fazer faculdade de biologia aos 33 anos para entender como conseguiria unir suas duas grandes paixões – a música e a natureza. “No terceiro ano, um professor virou parceiro do meu projeto de levar jovens estudantes de música para passeios e acampamentos em áreas verdes”, diz. “A beleza da natureza ajuda as pessoas a sonhar com o que é belo e isso é fundamental para quem quer estar próximo da arte da música.” Essas experiências a levaram a criar um método próprio de musicografia em braile para alunos cegos.

Todos esses planos foram bruscamente interrompidos no ano de 2014. Em menos de três meses, ela perdeu seu irmão, um cunhado querido e a mãe. “Isso me paralisou e entrei em um processo depressivo terrível”, lembra. “Procurei ajuda em tratamentos terapêuticos, mas estava difícil voltar a ser a LuQuinha de sempre.”

Até que, em 2016, uma amiga a convidou para conhecer o projeto da Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura da Paz (UmaPaz), desenvolvido pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. Lá, ela começou a fazer um curso de jardinagem que a ajudou a cultivar de novo a alegria em sua vida. “Consegui resgatar a importância da biologia na minha trajetória, voltei a ter contato com pessoas com necessidades especiais e, cada dia que eu ia, recuperava um pouco de mim”, conta ela, emocionada. “A velha LuQuinha voltava a viver”.

Foi em contato com as plantas que LuQuinha teve uma ideia. Convidou o amigo e ator Luciano Quirino para montar com ela o projeto Dupla Visão, que reúne fotos da natureza clicadas por Quirino e textos que refletem as sensações da bióloga ao ver as imagens. O trabalho virou uma exposição que, no ano passado, foi apresentada em uma unidade do Senac em São Paulo, na sede FMU e na própria UmaPaz. “O próximo passo é reunir o material em um livro e complementar com informações científicas das plantas retratadas”, conta ela.

Graças ao programa, a bióloga já está lançando outras sementes para seu futuro. Ela agora voltou a estudar. Está fazendo uma especialização em neuropsicopedagogia para complementar os cursos que já tinha feito no passado sobre enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes e para atender vítimas de abuso sexual. “São Paulo tem um potencial enorme de lugares, cursos e iniciativas que as pessoas acabam não explorando”, afirma. “E eu só enxerguei tudo isso depois que a UmaPaz me mostrou a riqueza que a cidade oferece”.

Agora, LuQuinha promete não parar nem se aposentar tão cedo. “Nunca me atraiu a ideia de ser uma daquelas idosas solitárias fazedoras de crochê”, conta a mãe de três filhos e avó do pequeno Murilo, de 2 anos. “Gosto de sair, conhecer gente, subir em árvores e ainda vou editar um livro, que é meu próximo plano.”

Por caminhos mais seguros
A ajudante de cozinha Rosângela Fortes ganhou segurança e horas de sono a mais com um programa que permite desembarcar em pontos de ônibus especiais durante a madrugada

Apaixonada por crianças, Rosangela Fortes, de 40 anos, sonha em ser pedagoga, herança dos tempos em que trabalhava como babá. Mas teve que postergar o plano quando nasceu Raphael, seu único filho, hoje com 14 anos. De lá para cá, assumiu diversas funções e desde 2016 trabalha como ajudante de cozinha em um badalado boteco no bairro do Itaim em São Paulo. “Sou responsável, entre outras coisas, pela produção dos mais de 1,7 mil dadinhos de tapioca que semanalmente fazem a sensação dos clientes da casa”, orgulha-se Rosangela, sempre bem-humorada.

Ela não perde o humor nem mesmo quando tem de enfrentar as quase 4 horas diárias nos ônibus que a levam de casa ao trabalho e a trazem de volta. “Nos dias que entro às 18h, saio de casa às 15h, porque o trânsito nesse horário é muito ruim. Na madrugada é bem mais rápido, cerca de 1 hora”, diz a ajudante de cozinha, moradora do Jardim Noronha, extremo sul da capital paulista.

Há três anos fazendo esse trajeto, ela se sente segura nesse ir e vir, mesmo tendo de pegar três ônibus para retornar a sua casa. “Nunca vi nada de ruim acontecer e os motoristas e cobradores são todos muito atenciosos”, elogia Rosângela.

Mas nem sempre foi assim. A casa onde mora com seus pais e o filho fica depois do Terminal do Grajaú e, durante os primeiros meses no restaurante, ela dormia no terminal, esperando o dia amanhecer para pegar o transporte que a levaria para casa. “Até que há pouco mais de dois anos, eu soube do circular noturno que tem ponto final no Jardim Noronha, muito perto da minha casa. E os motoristas fazem um retorno extra pra me deixar ainda mais perto”, explica. “Isso facilitou muito minha vida”.

Isso só foi possível graças ao serviço Desembarque Especial, regulamentado pelo Decreto Municipal 57.399/16. Com essa iniciativa, mulheres, idosos, travestis e transexuais podem optar pelo local mais seguro e acessível para desembarcar entre as 22h e 5h sem pagar nada. Durante esse período, os motoristas param em qualquer lugar do trajeto, mesmo que não seja num oficial. A regra não vale para corredores exclusivos.

Com isso, atualmente, mesmo nos dias que chega em casa quase 4 horas da madrugada, a ajudante de cozinha consegue dormir, acompanhar Raphael na ida à escola e tocar sua rotina. E não foram apenas algumas horas de sono a mais que Rosângela ganhou com a descoberta do circular noturno. “Hoje, tenho vários amigos no ônibus. São Paulo não para, então, gente que trabalha em hospitais, restaurantes, transporte, todos eles utilizam o serviço e a gente acaba se conhecendo”, recorda ela. “Até os motoristas e cobradores são grandes amigos. Recentemente saí de férias e todos ficaram falando das saudades que iam sentir.”



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