Brincadeiras na primeira infância ajudam a desenvolver valores

A primeira infância, do zero aos sete anos de idade, é a fase mais importante na formação dos valores e também o período em que se estabelecem as bases para o desenvolvimento físico, mental e emocional do indivíduo. Essa é a fase em que os processos neurológicos estão sendo formados. As brincadeiras ajudam a fortalecer essas conexões. Daí a importância em permitir que as crianças brinquem bastante livremente até os sete anos.

Entretanto, essa atividade instintiva e natural que é o brincar pode estar em risco, conforme identificou um estudo global realizado por Omo, da Unilever. De acordo com a pesquisa “Valor do Brincar Livre”, que ouviu mais de 12 mil pais ou mães de dez países, 40% das crianças têm uma hora ou menos por dia ao ar livre, embora 94% dos pais acreditem que, sem oportunidades para brincar, a aprendizagem das crianças possa ser prejudicada.

Segundo especialistas, na primeira infância o brincar é fundamental. As conquistas motoras, o desenvolvimento da linguagem verbal e não verbal, a percepção do que a criança sente e a percepção do outro são alguns dos elementos favorecidos por meio do brincar livre. Depois dos sete anos, as brincadeiras continuam sendo relevantes para uma vida saudável.

A psicopedagoga Maíra Scombatti explica que durante a primeira infância ocorre (ou pode ocorrer) o aprendizado das regras de convivência: o que pode e o que não pode, o que é da criança e o que é do outro, o respeito às diferenças, os princípios de solidariedade. “Nossos valores resultam das experiências vividas e as primeiras experiências costumam ser marcantes”, diz ela. “Vivências que a criança compartilha com seus familiares, amigos e educadores vão moldando todo seu desenvolvimento.”

Livre é livre
Quando a criança tem um espaço para explorar livremente, ela vai experimentar. Para Maíra Scombatti, tudo que provoca a concentração da criança provavelmente está ligado ao aspecto que ela precisa desenvolver. “Pode ser uma brincadeira com uma folha, com uma tampinha, com o que tem no ambiente. O que importa é não direcionar a criança e sim deixá-la livre para descobrir. Ela vai construindo narrativas a partir dessa experimentação”, afirma. “A brincadeira de subir e descer um degrau, para os mais novos, por exemplo, é um super exercício de equilíbrio, sustentação, mudança de um pé para o outro, diferença de altura”, exemplifica.

A experimentação do corpo, de sentir um toque ou um cheiro, do olhar, ampliam o desenvolvimento da motricidade fina (na forma como as crianças seguram as coisas) ou mais ampla (quando, por exemplo, experimentam movimentos da dança). Maíra chama atenção para o cuidado em não cair em uma necessidade de estimular precocemente os movimentos. “Se está tudo bem, a criança por si só vai experimentando e aprendendo com o corpo o que ela tem necessidade de aprender”, destaca.

Outro ponto relevante diz respeito ao funcionamento do cérebro. “As experiências iniciais ajudam a formar a arquitetura cerebral, assim como a natureza e extensão das capacidades cognitivas no geral. As sinapses nas crianças acontecem em uma velocidade incrível”, afirma.

Qualquer jogo ou brincadeira abre espaço para a espontaneidade, desde que os parceiros estejam verdadeiramente presentes e envolvidos. Em geral os participantes se concentram no objetivo do jogo. E é nesse momento em que as censuras e vergonhas desaparecem, que surge espaço para interações criativas e espontâneas.

As abstrações que as brincadeiras permitem favorecem ainda a criação de narrativas, de histórias e do pensamento mais elaborado. “A vivência dos diferentes papeis e de experimentar ser o que a criança quiser ser é muito saudável”, conclui.