Diante de um acidente, as pessoas costumam se apavorar com sangue e machucados. Isso não acontece com os profissionais da saúde. Eles sabem que o chamado trauma aberto, aquele no qual há rompimento da pele e por isso é mais impressionante, pode não ser o principal problema. Já os traumas conhecidos como fechados é que podem esconder maiores complicações. No caso de múltiplas vítimas, nem sempre receberá atendimento prioritário alguém que tenha sofrido fratura exposta.

“Primeiro nos concentramos no paciente que está com obstrução na via aérea, ou seja, quando há alguma coisa impedindo que ele respire. Em seguida, focamos naqueles que estão respirando, mas apresentam alguma dificuldade nesse quesito. Então, checamos a parte circulatória e as perdas de sangue”, conta Dino Altmann, cirurgião oncológico do Hospital Leforte. Altmann já foi responsável direto por mais de mil provas de automobilismo; e neste ano, será médico do Grande Prêmio do Brasil pela 29a vez. Além disso, é vice-presidente médico da Federação Internacional de Automobilismo, a FIA, e médico pessoal de pilotos.

Arsenal terapêutico

No hospital é imprescindível que haja uma sala cirúrgica sempre à disposição para atender os casos de trauma. Além dos aparelhos convencionais usados em diagnósticos, ultrassom e raios x, por exemplo, a instituição conta com exames e tratamentos de ponta e com profissionais que sabem manejá-los. Um deles é o neuronavegador, utilizado para localizar lesões no cérebro e ajudar se houver a necessidade de uma cirurgia. O aparelho funciona como um GPS, fornecendo as coordenadas exatas da lesão, e revolucionou a avaliação e as neurocirurgias.

Outra técnica utilizada na urgência foi batizada de Fast, sigla derivada da expressão em inglês para “avaliação focada com ecografia para trauma”. Por meio de ultrassonografia, ela detecta rapidamente se houve alguma lesão na coluna, em especial no tórax e no abdômen. No que diz respeito ao tratamento, podemos ressaltar o cateterismo. “Se há uma lesão no fígado, por exemplo, e precisamos estancar um sangramento, é inserido um cateter”, explica Altmann, como um aneurisma na aorta, utiliza-se a técnica para evitar o rompimento dessa artéria a técnica pode ser utilizada para colocar uma prótese no local, evitando que o aneurisma se rompa.

Cartilha médica do ABCDE

A ordem seguida na hora de atender casos de emergência está estipulada em um protocolo internacional conhecido como ABCDE do trauma (veja abaixo). O procedimento foi desenvolvido em 1976 pelo cirurgião ortopédico Jim Styner. Após sua família sofrer um acidente, ele percebeu que os métodos empregados até então não eram tão efetivos. O mais garantido era estabilizar o paciente até a sua chegada ao hospital. O primeiro atendimento é importantíssimo para aumentar a chance de sobrevida e diminuir sequelas. “O processo precisa ser repetido assim que o paciente chega ao pronto-socorro, pois seu estado pode mudar o quadro durante o deslocamento”, diz Altmann.

A sigla é formada pelas palavras em inglês:

A de air (ar), que leva o profissional a checar se as vias aéreas estão desobstruídas.

B de breathing, respiração em português.

C de circulation (circulação), que avalia se há alguma hemorragia.

de disability, ou incapacidade, que analisa nível de consciência e estado neurológico da vítima.

de exposure, exposição em português, que controla a hipotermia do acidentado e expõe o corpo do paciente para verificar se há alguma lesão que exija intervenção.