Quatro horas e meia. Esse é o tempo máximo recomendado para a assistência médica de uma pessoa que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), aumentando as chances de recuperação e diminuindo os riscos de sequelas e mortalidade. Esse período deve começar a ser contabilizado a partir do início dos sintomas até o momento em que o paciente recebe o medicamento correto e inclui todo o deslocamento até o hospital, que pode ser bastante demorado. Daí a importância de saber reconhecer rapidamente os sinais. “A fala costuma ficar enrolada, com troca de palavras; a visão fica embaralhada, dupla, ou há apagão de um dos lados; complicações motoras com começo súbito, como dificuldade para andar, dormência e formigamento; e dores de cabeça intensas”, explica Bruno Gonzales Miniello, neurologista do Hospital Leforte.

Tudo isso pode acontecer quando há a obstrução ou o entupimento de um vaso provocado por um trombo. Trata-se de um coágulo, que dá origem ao AVC isquêmico, responsável por cerca de 80% das ocorrências;  no caso do rompimento de um ou mais vasos, é chamado AVC hemorrágico. Há ainda um terceiro tipo, conhecido como ataque isquêmico transitório, que é caracterizado pela interrupção do fornecimento de sangue para o cérebro por pouco tempo. Juntos eles levam um brasileiro à morte a cada 5 minutos, totalizando mais de 100 mil óbitos por ano no País, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Eles são mais comuns em pessoas acima dos 55 anos, mas podem ocorrer em qualquer idade. “Um em cada seis indivíduos vai ter um AVC em algum momento da vida”, afirma o neurologista José Luciano Monteiro da Cunha, que também faz parte do quadro clínico do Hospital Leforte. Além disso, aproximadamente 120 milhões de células cerebrais morrem quando um acidente vascular cerebral acontece. Em comparação ao que normalmente ocorre no órgão por causa do passar dos anos, é como se ele envelhecesse 3,6 anos em 60 minutos; mais uma razão para não perdermos tempo diante de qualquer dúvida.

Direto para o hospital

Para evitar que tudo isso aconteça, é muito importante que os acompanhantes não tomem nenhuma atitude, além de seguir o mais rápido possível para o hospital. “Sugerir o uso de medicamentos pode até piorar a situação. O ácido acetilsalicílico, por exemplo, normalmente receitado para dores de cabeça, altera a coagulação sanguínea”, alerta Cunha. Chegando ao PS, devem informar imediatamente  que há a possibilidade de ser um AVC, conhecido popularmente como derrame.

Ao se certificar de que um paciente está sofrendo um acidente vascular cerebral, o médico utilizará a chamada Classificação Toast, que subdivide o problema em 5 grupos principais, de acordo com o que o provocou. “Depois que adotamos o protocolo, o tempo de internação caiu pela metade, ficando abaixo dos níveis internacionais”, conta Miniello.

O tratamento

De acordo com a classificação do AVC, o profissional lançará mão do procedimento adequado:

Isquêmico: na maioria das vezes, é usada a trombólise química, injeção de uma substância que dissolve o coágulo. Há também a possibilidade de realizar um cateterismo cerebral. O procedimento consiste na introdução de um tubo flexível pela virilha, que vai até o cérebro, com o objetivo de remover o trombo ou injetar remédios anticoagulantes diretamente no local.

Hemorrágico: o tratamento é feito com o controle da pressão arterial e o uso de oxigênio, além da monitoração dos sinais vitais, para que o sangramento seja combatido rapidamente. Nos casos mais graves, quando há o rompimento total da artéria, pode ser necessária uma cirurgia.

Depois que o quadro é controlado, geralmente é indicada uma internação de 5 a 10 dias. Esse período varia de acordo com o estado clínico da pessoa. Se houver sequelas, pode ser necessária a participação de fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas e terapeutas ocupacionais no tratamento.

Prevenção é o melhor remédio

Para evitar um AVC é fundamental conhecer seus fatores de risco:

– Hipertensão

– Colesterol e triglicérides altos

– Doenças cardiovasculares

– Diabetes

– Sedentarismo

– Fumo

– Estresse

– Ingestão de muito sal, açúcar e gordura

As mulheres também devem ter cautela com pílulas anticoncepcionais e reposição hormonal, pois os hormônios envolvidos nos dois casos favorecem o desencadeamento do problema. E se o uso dessas substâncias for associado ao fumo, o risco é muito maior. “As pessoas que costumam ter enxaqueca também precisam de atenção extra, pois durante uma crise os vasos do cérebro às vezes se contraem tanto que podem desencadear um AVC”, alerta Miniello.