Equipamentos que acompanham a respiração do paciente, sessões de terapia de poucos minutos ou reduzidas em pílulas que podem ser tomadas em casa. Nos últimos dez anos, a forma de diagnosticar e acompanhar o câncer passou por grandes transformações, oferecendo aos pacientes maiores possibilidades de cura e mais qualidade de vida durante e após o tratamento. No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 600 mil novos casos são previstos ao ano, mas as taxas de mortalidade da doença têm diminuído. Cerca de 90% dos brasileiros diagnosticados com câncer de mama ou de próstata, dois dos mais incidentes em todo o mundo, sobrevivem à doença – em 1995, a taxa era de 80%, segundo estudo publicado na revista científica The Lancet. São três as linhas principais seguidas pelos médicos para combater a doença: cirurgia, quimioterapia e radioterapia.

Na radioterapia, os feixes eletromagnéticos ganharam precisão milimétrica e conseguem atingir apenas as lesões tumorais, poupando órgãos e tecidos sadios. Novas máquinas – como a Elekta Infinity, inaugurada em fevereiro no Hospital Leforte – são capazes de modular a radiação de tal forma que, com o auxílio de tomografias em 4D feitas pelo aparelho, concentram as ondas e reduzem as sessões de radioterapia convencionais, que podiam levar até vinte minutos, para cerca de dois a três. “Essa é uma das poucas máquinas do tipo no País e oferece radioterapia do mais elevado nível tanto aqui como fora do Brasil”, diz Dr. Daniel Grabarz, coordenador do Núcleo de radioterapia do Hospital Leforte. O aparelho também é importante na oncologia pediátrica, segundo a Dra. Franciane Benica, especialista nessa área. “Ele evita que a radiação atinja células normais e provo- que alterações no crescimento das crianças”, afirma.

Arsenal contra o câncer

Junto aos tratamentos mais modernos, o paciente com uma doença complexa como o câncer precisa contar com um local que concentre informações, cuidado e acompanhamento integral. De acordo com o relatório anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), publicado no início deste ano,
um dos maiores avanços no cuidado com quem tem câncer é reunir as terapias, os esclarecimentos sobre os prognósticos e a boa comunicação com os profissionais de saúde. A articulação é crucial para a qualidade de vida de quem está com a doença em estágio avançado.

Em São Paulo, o Leforte Oncologia é um dos locais que junta a tecnologia de ponta
 no tratamento de várias neoplasias a uma equipe multiprofissional especializada 
no diagnóstico e acompanhamento
 dos pacientes. “Temos reuniões multidisciplinares semanais para discutir
os temas do Centro e também casos
 clínicos, um procedimento muito utilizado 
no exterior e fundamental para o sucesso dos tratamentos”, diz Grabarz. Os mais avançados exames e tratamentos de quimioterapia, radioterapia e cirurgia, aliados à equipe de diferentes especialidades,
 são um apoio essencial aos pacientes no combate ao câncer. Finalmente, a oncologia do futuro chegou à realidade.

Direto ao ponto

Para que a radiação no combate ao câncer evoluísse dos primeiros experimentos do casal Pierre e Marie Curie, no século XIX, na França, chegando a equipamentos ultra tecnológicos como a Elekta Infinity, a radioterapia precisou percorrer um fascinante caminho de inovação. O princípio parece simples: utilizar ondas eletromagnéticas para destruir células doentes. No entanto, domar essas ondas e acertar o alvo com precisão microscópica é o grande desafio dos cientistas. Na década de 1960, surgiram os aceleradores lineares, que substituíram as antigas máquinas de radioterapia que utilizavam
 elementos radioativos como o 
césio ou cobalto. Concentrando 
ondas vindas da eletricidade, esses instrumentos deram mais segu
rança para quem recebia o tratamento
e para quem operava os aparelhos. Contudo, os médicos ainda utilizavam chapas de raio-X ou exames pouco nítidos para descobrir onde estava o câncer. Foi apenas nos anos 1980, com o desenvolvimento das tomografias que as imagens tridimensionais passaram a guiar o tratamento. Uma década depois, ressonâncias magnéticas, ecografias e exames de medicina nuclear já eram capazes de dar informações mais precisas aos profissionais.

Uma máquina como a Elekta Infinity reúne toda essa tecnologia em sistemas como a Radioterapia Guiada por Imagem (IGRT, na sigla em inglês), que oferece imagens em quatro dimensões, em tempo real, aos médicos. Por meio dele é possível focar o feixe eletromagnético com tamanha exatidão que até mesmo movimentos sutis, como o da respiração do paciente, podem ser acompanhados e corrigidos. Isso é necessário para que a máquina possa calibrar seus instrumentos e oferecer os tratamentos de radioterapia mais avançados do mundo, como a Terapia em Arco Dinâmico (VMAT, na sigla em inglês), considerada a evolução da Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT, na sigla em inglês), utilizada para tratamentos como de câncer de próstata, ou a Radiocirurgia Esterotáxica Corpórea (SBRT, na sigla em inglês). “Dessa maneira conseguimos que a radia- ção atinja o mínimo possível de tecido saudável, diminuindo os efeitos colaterais e oferecendo as maiores possibilidades de sucesso no tratamento”, explica Dr. Daniel Grabarz, coordenador do serviço de radioterapia do Hospital Leforte.