A biologia molecular e as técnicas minimamente invasivas de cirurgia são alternativas reais no combate ao câncer. Mais de 80% dos casos de tumores sólidos precisam de cirurgia, segundo levantamento recente publicado na revista científica The Lancet. No entanto, os métodos que podem ser usados para diagnosticar, tratar ou aliviar os sintomas da doença, atualmente, fazem uso de cateteres e intervenções endoscópicas, capazes de evitar incisões cirúrgicas. As novíssimas abordagens no tratamento oncológico
incluem procedimentos minimamente invasivos, que retiram tumores com precisão.

Com o avanço da medicina, as chamadas terapias-alvo, que acontecem por meio de moléculas específicas para tratar alterações genéticas presentes no tumor, e a imunoterapia, que usa drogas desenvolvidas para estimular as células do próprio sistema imunológico do paciente, têm se tornado realidade nos melhores centros oncológicos. “A medicina personalizada, com diagnósticos mais precisos e tratamentos mais direcionados, é apontada como o futuro para o controle do câncer”, diz Ricardo Antunes,coordenador da Oncologia Cirúrgica do Hospital Leforte.

Técnicas combinadas
Algumas das formas mais inovadoras de tratar tumores em estágio inicial do aparelho digestivo, como esôfago, estômago e intestino, incluem exames e tratamentos por endoscopia — sem a necessidade de qualquer corte externo. A médica-chefe da Endoscopia do Hospital Leforte, Adriana Costa, explica que a técnica, desenvolvida no Japão no fim da década de 1990, consiste na visualização e retirada dos tumores em fases iniciais por meio de endoscopia, ou seja, da maneira menos invasiva possível. “Com a utilização de aparelhos de imagem de alta definição, que nos ajudam a enxergar os órgãos por meio do emprego de instrumentos de precisão, podemos visualizar o tumor e removê-lo com segurança. Isso é um ganho incrível de qualidade de vida para o paciente”, diz.

Embolização de tumores
O cirurgião endovascular participa dos tratamentos oncológicos com a utilização de um cateter para auxiliar no tratamento do câncer, explica João Gualberto Diniz, coordenador de Cirurgia Vascular da unidade Liberdade do Hospital Leforte. Se alguém tem um tumor no fígado, o cateter é introduzido no órgão, e a quimioterapia usa essa via de acesso para o tratamento. Há também a embolização terapêutica, para evitar as complicações de tumores, como os sangramentos (que podem acontecer, por exemplo, em câncer de pulmão ou útero): o cateter é inserido na artéria que nutre o do tumor, e são injetadas pequenas partículas que inibem as hemorragias (em outras palavras, a artéria fica “entupida”, e a hemorragia é estancada).

Avanços como a técnica de neuronavegação, uma espécie de “sistema de GPS” que informa ao médico a localização exata de tumores cerebrais, acoplada à ressonância magnética com espectroscopia, ferramenta que ajuda a fornecer características das proteínas dos tumores, ou à tractografia, que mostra a posição de áreas fundamentais do cérebro como a linguagem ou a visão, também são apoio essencial para tratamentos avançados, pouco invasivos, no sistema nervoso central. “Além disso, estão ganhando espaço testes genéticos e moleculares desenvolvidos há cerca de dois anos, que são fundamentais para escolher o tipo de tratamento a ser seguido (terapia-alvo). A área está se aprimorando rapidamente e há estudos em curso sobre imunoterapias com pouquíssimos efeitos adversos que, acredito, serão trazidos em breve para os tratamentos.”, explica a Dra. Sâmia Yasin Ways, neurocirurgiã da equipe do Prof. Dr. Guilherme Lepski do Hospital Leforte Morumbi.

Evolução terapêutica

O primeiro método desenvolvido para o tratamento do câncer foi a cirurgia, ainda na Antiguidade. A ideia simples, de extirpar tumores em busca da cura, era uma operação primitiva que incluía muitos riscos e complicações. Em 1809, Ephraim McDowell fez nos Estados Unidos o que se tornou conhecida como a primeira remoção de um tumor de ovário. Desde então, a cirurgia oncológica vem sendo aprimorada e tem importante posição no tratamento da doença, ao lado da quimioterapia, terapias alvo-moleculares, imunoterapia e radioterapia. Os mais avançados estudos na área perseguem o que os médicos chamam de métodos “pouco invasivos”. Quanto menos invasivo o procedimento, melhores são a recuperação e as chances de cura. Nesse sentido, as cirurgias por laparoscopia (pequenas incisões na
pele), endoscopia e robótica (em que o médico controla as máquinas que atuam no paciente) são as que oferecem oferecem campo mais promissor. As técnicas são empregadas em conjunto com procedimentos e equipamentos que facilitam o diagnóstico e o tratamento em geral. “Instrumentos que usam inteligência artificial, nanotecnologia e opções moleculares e genéticas estão chegando até nós por meio de centros avançados de tratamento oncológico”, afirma Adriana Costa, médica-chefe da Endoscopia
do Hospital Leforte.