Os pais jamais esperam que a palavra “câncer” seja o assunto de uma consulta médica de seus filhos. No entanto, se diagnosticada e tratada em suas fases iniciais, a doença em crianças e adolescentes pode ser vencida em 70% a 80% dos casos. Estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) indica que esse diagnóstico em meninos e meninas até 14 anos aumentou 13% nos anos 2000 em comparação à década de 1980. No combate incessante contra a doença, indícios no corpo e no comportamento das crianças são grandes aliados. “Com o diagnóstico precoce, conseguimos alcançar os níveis de cura vistos mundialmente”, afirma a médica Franciane Benica, especialista em Oncologia Pediátrica da unidade Liberdade do Hospital Leforte.

Segundo a OMS, os três tipos de câncer mais frequentes na infância são as leucemias, tumores do sistema nervoso central e os linfomas. As leucemias estão ligadas a uma disfunção na medula, o local onde é produzido o sangue dentro dos ossos. Já os tumores do sistema nervoso central podem afetar o crânio, trazendo dores de cabeça ou alterações na visão. Os linfomas envolvem o sistema linfático, que inclui gânglios e outros sistemas de defesa do organismo. As ínguas são os sintomas mais comuns desse tipo de câncer. Os cientistas ainda não conseguiram descobrir as causas da doença em crianças e adolescentes — não há herança genética do câncer infantil. Por essa razão, eles não podem ser prevenidos e, quanto mais cedo sinais e sintomas forem identificados, maiores as chances de sucesso dos tratamentos.

Armas de Combate
Um centro que reúna os exames a terapias de ponta adequadas às crianças e suas famílias é um apoio fundamental. Por isso, núcleos como o do Hospital Leforte, que conta com aparelhos de ultrassonografia, tomografia, ressonância magnética, cintilografias (um avançado tipo de exame por imagem da Medicina Nuclear que utiliza uma substância que “segue” o funcionamento de órgãos e tecidos) óssea e com IMBG ou exames de imagem PET Scan (siga em inglês para tomografia por emissão de pósitrons), essencial para identificar linfomas, bem como especialistas em mielograma, biópsias de medula e radiologistas intervencionistas são de grande importância para o diagnóstico.

Maiores chances de cura
Junto à tecnologia para identificar a doença precocemente, aparelhos como o Elekta Infinity, capaz de oferecer tratamentos de radioterapia com precisão milimétrica, e cirurgias com tecnologias como a videolaparoscopia em 3D, que associam a qualidade de imagem a intervenções pouco invasivas, ou com neuronavegador, instrumento que funciona como um sistema de GPS que informa a localização exata de
tumores cerebrais, faz com que as terapias causem poucos efeitos colaterais, aumentando as chances de cura. Como o período infantil é importante para o desenvolvimento cognitivo, quanto menos sequelas as terapias oferecerem, maior será o sucesso. “Dessa forma, o tratamento se torna mais suave, menos sofrido, e aumentam as chances de cura”, diz Denise Ramos de Andrade Bendoni, coordenadora da pediatria da unidade Morumbi do Hospital Leforte.

Olhinho em Foco
Além do teste do pezinho, outro exame fundamental para trazer pistas e ajudar os profissionais a diagnosticar possíveis indícios de câncer em recém-nascidos é o teste do olhinho, um exame simples e ainda pouco conhecido, capaz de detectar precocemente doenças de visão no bebê, como glaucoma, catarata congênita e também tumores na região ocular. Feito com um aparelho oftalmológico, ele funciona como um “flash” de máquina fotográfica e verifica o reflexo da retina da criança — se a luz refletida voltar esbranquiçada, pode haver algum problema. Um dos tipos de tumores oftalmológicos mais comuns em crianças, o retinoblastoma, pode ser visto por meio desse exame e, quando identificado e tratado em fases iniciais, tem altíssimas possibilidades de cura, e mortalidade próxima de zero. “No Brasil, como o teste é pouco familiar, as mortes atribuídas a essa doença ainda estão em torno dos 30%. Para evitá-las, é imprescindível fazer consultas de rotina com um oftalmologista a cada seis meses nos primeiros dois anos de vida”, explica Marcelo Jerez Jaime, oftalmologista da unidade Morumbi do Hospital Leforte.