Apresentado por

Artes e esportes devem ser prioritários na educação

Ciclo de Debates em Gestão Educacional, do Itaú Social, discute a educação integral e a importância dos diferentes tempos, espaços e conteúdos de aprendizagem

As cantoras e os cantores mirins do coral Baccarelli, que vivem na comunidade de Heliópolis, em São Paulo, não abriram o Ciclo de Debates em Gestão Educacional do Itaú Social por coincidência. A música cantada pelos jovens é uma das bases da educação integral que deveriam estar disponíveis para todas as crianças, como mostraram os especialistas que participaram do evento no dia 11 de dezembro.

Pesquisas nacionais e internacionais que visam aperfeiçoar o cenário educacional apontam para a necessidade de o português, a matemática e a ciência estarem lado a lado do desenvolvimento musical, artístico e esportivo.

“As crianças aprendem os conceitos na prática. Por isso, o brincar e o praticar esportes são tão importantes para o desenvolvimento pleno delas. Ao falar em educação integral, estamos nos referindo a todas as dimensões: intelectual, física, social, emocional e cultural”, afirma Angela Dannemann, superintendente do Itaú Social.

A série de encontros realizada pelo Itaú Social desde 2011 ganhou uma novidade este ano. Pela primeira vez, os debates ocorreram também fora de São Paulo. "Outras quatro cidades fizeram parte da programação: Aquiraz (CE), São Luís (MA), Várzea Grande (MT) e Cuiabá (MT)."

Angela Dannemann, superintendente do Itaú Social
Flavio Comim, economista e professor das Universidades Ramon Llull e Cambridge
Lino de Macedo, educador da USP especializado em Jean Piaget

Em todas as atividades, a convidada internacional Adele Diamond, da Universidade de British Columbia, no Canadá, esteve presente. Neurocientista pioneira no estudo das funções executivas do cérebro (veja entrevista nesta página), a americana desenvolveu estudos que descrevem os efeitos maléficos do estresse na vida das crianças, enquanto ela também demonstrou como uma relação amorosa e fraterna entre familiares e filhos, assim como entre educadores e crianças das diversas idades, é muito benéfica.

Um dos objetivos dos debates foi transformar a teoria na prática. “Muito se falou da brincadeira, dos jogos e dos esportes como recursos para a aprendizagem, mas nós sabemos que muitos professores não tiveram a formação sobre como aplicá-los”, afirma o economista Flavio Comim, professor das Universidades de Ramon Llull e Cambridge.

Coube ao pesquisador brasileiro apresentar o levantamento de pesquisas conduzido por ele: “Artes e Esportes, relação com desenvolvimento humano integral”. Na publicação são apresentadas e analisadas pesquisas de referência sobre a relação entre artes, esportes e desenvolvimento humano integral, com foco em estudantes do ensino fundamental. Para o especialista, uma política educacional eficaz não deve, na tentativa de melhorar o ensino de português, matemática ou ciência, retirar artes ou esportes do currículo.

EDUCAR OS ADULTOS

Também é importante que o professor tenha elementos para atuar. “Precisamos pensar em formação continuada, voltada para a prática. É importante separar uma brincadeira por brincadeira e outra com intenção pedagógica.” Mas, como quem cuida das crianças são os adultos, o professor emérito da USP Lino de Macedo, psicólogo especializado em Jean Piaget, também se preocupa com os familiares e professores. “Na multiplicidade dos temas que precisam ser geridos na vida adulta, em uma sociedade consumista e exigente e sempre cheia de novidades por causa da tecnologia, é preciso ter muita capacidade para se ajustar”, diz o pesquisador.

A criança precisa pensar “fora da caixa” Para Adele Diamond, neurocientista americana, o relacionamento afetivo é um grande instrumento pedagógico

Em meio às rápidas transformações digitais, e informação quase infinita possibilitada pela tecnologia, a pesquisadora Adele Diamond solidifica sua tese de que é essencial investir em relacionamento.

Uma de suas especialidades é o estudo das chamadas funções executivas. Por que elas são importantes? As funções executivas incluem um conjunto de habilidades: o autocontrole, a atenção seletiva, a flexibilidade, entre outras. Elas são importantes porque mostram, uma vez formadas em alto nível, como se pode raciocinar para resolver problemas. Ter boas funções executivas é a forma mais previsível para se sair bem na escola, na carreira e na vida como um todo.

Como a neurociência explica o desenvolvimento das funções executivas? Elas dependem de uma área do cérebro chamada córtex pré- -frontal e de outras áreas que se conectam a ele. Esta estrutura é a primeira a evoluir no cérebro, mas é também a que leva mais tempo para amadurecer, além de ser a mais frágil. E se você está triste, estressado, sozinho ou sedentário, o córtex pré-frontal sentirá o baque primeiro e de forma mais severa.

Como ajudar as crianças a se desenvolver da melhor forma possível? O relacionamento é imprescindível para que as crianças se desenvolvam. Elas precisam se sentir ouvidas, valorizadas e respeitadas. Estudos feitos sobre a primeira infância mostram que não importa, por exemplo, o número de crianças em sala ou o tipo de material didático. O que mais importa é a relação afetiva entre os adultos e as crianças, e até que ponto os educadores se importam com o bem-estar delas.

Existe uma fórmula mais indicada para que esta forma de educar seja implantada no dia a dia das escolas? O aprendizado tem que ser prático. As crianças precisam estar em movimento, mas cada vez mais as escolas estão transformando-as em pequenos estudantes universitários, o que não é adequado ao desenvolvimento. Por isso, temos crianças que odeiam a vida escolar. Não que a educação infantil não seja boa, mas as instruções acadêmicas precoces são.