Ensino e aprendizagem

Antes de escolher uma instituição, é preciso notar que a oferta de outro idioma é apenas um dos aspectos oferecidos pela escola bilíngue. Segundo Antonieta Heyden Megale, doutora em Linguística Aplicada pela Unicamp e coordenadora da pós-graduação em Educação Bilíngue do Instituto Singularidades, as escolas bilíngues devem ter como foco oferecer aos alunos altos níveis de proficiência em diferentes línguas. Em vez de aulas somente de inglês, nas quais a finalidade única é o aprendizado da língua-alvo, são ministradas também aulas em inglês sobre conteúdos curriculares, que possuem uma finalidade dupla: o ensino da língua e o da disciplina.” O objetivo é favorecer a imersão no idioma estrangeiro, aspecto que diferencia um bom ensino bilíngue dos demais.

Formação dos professores

Em qualquer modalidade de educação, o papel do professor é de extrema importância. No caso do ensino bilíngue, não basta o docente demonstrar capacidade didática. É preciso apresentar domínio para ensinar em dois idiomas, e muitas escolas exigem certificações internacionais, como o exame de Cambridge, para o inglês. O profissional deve investir na sua formação, se aperfeiçoar continuamente, obter certificados de proficiência e demonstrar participação em eventos na área, pois isso favorece a troca de experiências”, defende Mara Rubia, coordenadora da Especialização em Metodologias para Educação Bilíngue do Centro Universitário Opet (Uniopet).

De olho na legislação

No Brasil não existe uma regulamentação que defina exatamente o que é uma escola bilíngue. Hoje somente as instituições de ensino para surdos, aquelas em região de fronteira e as indígenas são consideradas bilíngues, segundo o Ministério da Educação (MEC). Para Analívia Lacerda, diretora da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar) e membro da Organização das Escolas Bilíngues de SãoPaulo(Oebi), o fato de não haver leis específicas não significa que os pais não devam cobrar um ensino de qualidade. “Muitas escolas oferecem carga de aula maior em inglês, mas nem por isso podem ser consideradas bilíngues. O ideal é que a imersão aconteça com atividades sendo feitas nos dois idiomas”, afirma. Alguns especialistas defendem que ao menos metade da carga de aulas deva ser em um idioma diferente, mas essa quantidade é apenas um parâmetro. Outro ponto de atenção é que, mesmo sendo bilíngues, as escolas precisam respeitar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Isso significa que devem oferecer as disciplinas obrigatórias previstas no currículo nacional brasileiro – ainda que o façam em outra língua.

Rotina de atividades

Diferentemente de uma escola regular, onde geralmente as aulas são expositivas e os estudantes têm pouca autonomia para sugerir alterações na rotina, em uma escola bilíngue a proposta deve ser oferecer aos alunos atividades dinâmicas, para que possam transitar de um idioma para o outro naturalmente. É desse princípio que parte a metodologia de ensino da Escola Concept, lançada em 2017 com filiais em Salvador, São Paulo e Ribeirão Preto. Na instituição, o bilinguismo é apenas um dos diferenciais. O objetivo da escola é oferecer uma educação que forme alunos para o século 21, atrelando o ensino em português e inglês a atividades pautadas pelo interesse que os próprios estudantes demonstram, como coding (linguagem de programação), outros idiomas e esportes variados, que vão da esgrima ao parkour. A proposta é que as atividades sejam 80% em inglês na educação infantil e 50% na fundamental. Aulas de conteúdos disciplinares como matemática e ciências são oferecidas nos dois idiomas. “A língua inglesa não é tratada como fim, mas como meio para aquisição de novos conhecimentos e habilidades”, destaca Nadja Valente, diretora da Concept Salvador.

Alta procura

Exatamente por não existir regulamentação detalhada, qualquer escola privada pode se denominar bilíngue. Isso, de acordo com Analívia, invalida um levantamento do número exato de instituições nessa modalidade. Apesar da falta de dados oficiais, a representante da Abepar afirma que profissionais da área notam um crescimento cada vez maior. “Escutamos constantemente relatos de escolas novas que estão abrindo com essa modalidade. No caso de São Paulo, a oferta tem crescido em diversas regiões.” Outro sinal de que o tema tem ganhado mais espaço no universo da educação é a maior procura por cursos de formação de professores bilíngues. Segundo a educadora Antonieta, cerca de sete anos atrás os cursos nos quais ela lecionava tinham dificuldade de fechar turma, tamanha a falta de interesse no tema. Hoje as vagas esgotam assim que as matrículas são anunciadas. O perfil das pessoas que procuram o curso é variado. “Temos docentes e coordenadores que já atuam em escolas bilíngues, professores de inglês que desejam mudar de área, profissionais que atuam em editoras e, ultimamente, temos administradores e economistas que querem investir no segmento, mas gostariam de entender mais sobre o assunto.”