O agronegócio foi o grande assunto do segundo dia do Congresso de Inovação 2017 – Megatendências 2050, realizado na FEI, nesta terça-feira (10). Abrindo o painel “Produtividade e Competitividade no Campo”, o engenheiro agrônomo Kepler Euclides Filho levantou importantes questões sobre o setor, principalmente tendências globais e a possibilidade de crescimento brasileiro. O tópico foi abordado em uníssono entre os palestrantes, já que todos concordam que o País, aliado à tecnologia, pode se tornar líder mundial na produção de alimentos.

Christian Lohbauer, Diretor de Assuntos Corporativos e Governamentais da Bayer, mediador do painel, falou que esta possibilidade no ramo do agronegócio é uma “vocação” já existente. “Se quisermos, o Brasil pode ser o maior produtor de comida do mundo. Isso significa muito mais que ser um exportador de produtos básicos ou commodities”, disse, citando a possibilidade de produzirmos alimentos com valor agregado, principalmente tecnologia.

Como exemplo, lembrou que o País é líder na exportação de suco de laranja e com isso desenvolveu soluções inovadoras enriquecendo o produto. “O suco sai do interior de São Paulo em um caminhão, desce a serra, entra no navio e vai até uma fábrica na Alemanha sem entrar em contato com o ar. Como? Isso foi desenvolvido aqui em Araraquara, por brasileiros”, afirmou.

Foco na agricultura dos trópicos

A tendência do agronegócio ser cada vez mais forte no Brasil é um tema consensual entre os brasileiros do painel, mas também para o chileno Alex Foessel, Diretor do Centro de Inovação Tecnológica da América Latina da John Deere. Citando o uso de recursos da nuvem, big data e a internet das coisas, o engenheiro afirmou que esta é uma grande oportunidade para o Brasil ser protagonista do mercado.

“A principal fonte de alimentação vai vir dos trópicos. Essa liderança de máquinas e conhecimento virá daqui, ninguém vai poder inovar e ter tantas soluções como o Brasil”, explicou, e fez um pedido aos alunos da FEI. ” Faço um convite para os estudantes que participem de uma empresa que produza máquinas, façam peças, enfim, façam pesquisa para trabalhar no agronegócio”, disse.

Francisco Matturro, Vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, ponderou como o futuro da agricultura depende de mão de obra qualificada e especializada, tanto entre os grandes players como nas pequenas propriedades. “Antigamente se dizia que quem não estudava não iria ‘sair da roça’. Agora é o contrário, se não estudar, não vai ter lugar pra trabalhar na roça”, brincou.

Logística e infraestrutura

Há um cenário muito favorável para que o Brasil de fato se torne o maior produtor de alimentos do mundo, desde que use a tecnologia para ajudar os meios de produção e diminua o desperdício, aumentando sua produtividade. Para Silvio Furtado, Diretor de Vendas da ZF América do Sul, o grande foco do agronegócio deve estar na infraestrutura e logística. “Quando você vê aquela fila de caminhões nas proximidades de portos é porque estamos na supersafra e o produtor deixa os grãos no caminhão lá uma semana esperando para poder embarcar no próximo navio”, afirmou.

Citando um exemplo de melhora na questão do desperdício, mostrou como a simples mudança do tamanho do eixo de uma colheitadeira de cana-de-açúcar diminuiu em 26% o número de plantas destruídas no processo. Independente dos cenários de crise que possam existir, todos também concordam que os investimentos no agronegócio não irão parar, principalmente por motivação do setor privado. “A John Deere não parou de investir em tecnologia, a ZN não parou. Nós já vimos que o agronegócio é muito forte”, disse Furtado. “Passamos por problemas de credibilidade, mas essa crise pode ser superada. O resto virá”, completou Foessel.