Depois do primeiro dia de debates sobre cidades inteligentes, big data e internet das coisas, o Congresso de Inovação 2017 – Megatendências 2050 partiu para o campo nesta terça-feira (10). Os primeiros painéis levantaram questões e soluções para uma integração maior entre a vida rural e urbana e soluções para o agronegócio, sempre seguindo o tema central do evento: pensar como a tecnologia pode melhorar a qualidade de vida.

A abertura do dia ficou por conta de Leonardo Sologuren, sócio-diretor da Horizon, que falou como é vital que exista uma evolução tecnológica no ambiente rural. Em 2050, a perspectiva é que o planeta tenha 10 bilhões de habitantes, tornando a questão de abastecimento de alimentos um tópico central. Sologuren explica que em 2020, cada hectare de colheita deve alimentar 8,6 pessoas. O número projetado para 2050 sobe mais ainda: 10,1 pessoas por hectare. “Teremos que ser mais produtivos e mais eficientes. O Brasil se destaca nesse potencial de abastecimento global”, disse, citando a China como grande consumidora e aliada das commodities, sendo responsável pela compra de 80% da soja do País.

A tecnologia deve ser grande aliada nesse processo para aumentar a eficiência agrícola. Sologuren cita algumas inovações já implementadas no campo para que a curva de crescimento seja maior, como captação de dados das fazendas e criação de um big data e algoritmos capazes de ajudar o produtor a se planejar para enfrentar eventualidades climáticas.

Para onde vai a agricultura?

Mediado pelo jornalista Carlos Tramontina, o painel “2050, Quo Vadis Agri-Industria?” despertou questões sobre os desafios dos próximos anos da agricultura e a necessidade de melhorar a produtividade no campo. O argentino Gustavo Grobocopatel, Presidente do Grupo Los Grobo, afirmou de forma contundente que as estruturas mudarão e que “a revolução virá das áreas rurais”. O engenheiro agrônomo explicou que a biotecnologia será vital em todos os efeitos para a melhora de produtividade e também será responsável pela mudança demográfica das cidades, onde nascerão zonas mistas de áreas urbanas e rurais.

“Estamos produzindo sementes com cargas genéticas cobertas de microorganismos que vão ajudar a planta a crescer. A microbiologia vai se convergir com a genética”, disse, citando também a automação do campo. “A robótica vai mudar tudo o que conhecemos no campo. Acho que ela vai mudar toda a estrutura do maquinário agrícola. Nem precisaremos de tratores para mexer na terra. Teremos máquinas para injetar sementes em grande velocidade, todas controladas por GPS com sistemas integrados e provavelmente impulsionados por energia renovável, energia solar”, imaginou.

Os conceitos de big data e internet das coisas, conceitos sempre presentes quando falamos em cidades inteligentes, também já estão sendo aplicados nas projeções para o que será a vida do campo nos próximos anos. “Vamos processar todas as informações disponíveis e ter muito mais conhecimento para aplicar tecnologias”, completou. Para Bernardo Silva, Presidente Executivo da Associação de Biotecnologia Industrial, o Brasil terá que duplicar o uso de recursos naturais, mas vê todo o cenário de maneira otimista. “Frente às esses desafios, temos uma grande oportunidade de negócio, possivelmente a maior da nossa geração”, disse.

Importância da academia para o agronegócio

Luiz Carlos C. Carvalho, Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, ressaltou como o setor é importante para o Produto Interno Bruto (PIB) do País e como atividades acadêmicas também potencializam a indústria. Para ele, é fundamental trazer o agronegócio para o ambiente das universidades. “Sou engenheiro agrônomo formado. Estamos acostumados a discutir isso no nosso ambiente, mas essa engenharia ficou mais distante das outras. Vejo com muita alegria essa abordagem geral onde todos passam a entender que esse é o grande tema brasileiro”, afirmou.

Ele ainda destacou que este é o caminho para o Brasil ter a condição de ser um protagonista geopolítico. “Quanto mais a academia estiver integrada com o setor privado, mais sucesso a gente vai ter”, concluiu. A opinião foi endossada por André Clark Juliano, presidente da Siemens, que ressaltou que cabe aos estudantes pensar no futuro. “É parte do mundo acadêmico voltar a planejar 50 anos a frente. É um fator fundamental”, disse.

Gilberto Kassab

Impossibilitado de participar do Congresso no dia de inauguração, Gilberto Kassab, Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, esteve presente na manhã desta terça-feira para fazer um pronunciamento sobre o evento. Apresentado pelo Padre Peters, ressaltou a importância de eventos voltados para a ciência e tecnologia como o Congresso da FEI. “A saída para qualquer país é o investimento em pesquisa. Infelizmente, o Brasil ainda não despertou para essa importância. Seríamos outro país se estivéssemos há alguns anos com esse comportamento. A FEI é diferenciada por mostrar a inovação em eventos como esse”, afirmou.