Esporte para divertir, distrair, apontar caminhos alternativos e recuperar jovens. Ferramenta poderosa de transformação social, a prática de atividades físicas serve como pilar de um projeto piloto de sucesso no estado do Rio de Janeiro. O Esporte e Cidadania, do Ministério do Esporte, já atende a mais de 15 mil crianças e adolescentes entre 6 e 21 anos. Os 156 núcleos estão instalados em locais de vulnerabilidade social e em unidades do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase) do Rio.

Criado em 2016, o Esporte e Cidadania começou em 56 pontos do estado, mas a alta procura dos jovens e de suas famílias justificou a ampliação, permitindo a abertura de mais 100 núcleos. Em cada núcleo, são oferecidas duas atividades esportivas e uma de artes marciais. A escolha das modalidades leva em conta atividades que já vinham sendo desenvolvidas nos locais, de modo a aproveitar estruturas e dialogar com uma demanda já existente em cada comunidade. Os resultados são animadores.

“A procura dos jovens é bem grande. Temos diversos relatos de evolução de quem participa do projeto, como alunos que tinham dificuldades na escola e melhoraram. A grande proposta não é transformar ninguém em atleta, é dar cidadania”, ressalta Ananda Rodrigues, coordenadora do Esporte e Cidadania.

Dentro do Parque Olímpico da Barra da Tijuca, onde Ananda trabalha, funciona um dos núcleos com características mais peculiares. A ampla e moderna estrutura do local que sediou vários dos eventos dos Jogos Olímpicos garante as melhores condições aos participantes do projeto. E a localização, em uma região próxima a bairros de classes sociais bem distintas, resulta na convivência entre jovens com referências de mundo das mais diversas. “Aqui todo mundo é igual”, reforça Ananda.

Foi o que percebeu a dona de casa Angela Cassemiro ao conversar com os professores do projeto. Mãe de Alexia, 20 anos, que tem síndrome de Down, queria saber se havia atividades direcionadas a portadores de deficiência. Ouviu, como resposta, que a filha treinaria junto com todos.

Hoje Alexia faz jiu-jitsu e futsal no Parque Olímpico. Recentemente, participou de competições de jiu-jitsu, o que, segundo Angela, faz com que sua filha se empenhe mais e não abra mão de ir às aulas do projeto. “Houve melhora na vida dela, na saúde, na coordenação motora. Ter regras e lidar com elas é algo que ajuda bastante. Ela tem essa coisa de querer medalha, querer ganhar. A gente diz que isso não é o mais importante, mas ela tem isso dentro dela”, conta a mãe de Alexia.

Atenção a jovens internos

A partir de parcerias com a Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os professores foram treinados para atender aos mais diversos perfis de participantes do projeto. A ampla gama de beneficiados, que inclui uma larga faixa etária, não deixa de fora quem cometeu algum ato infracional e foi internado em unidades da Degase.

Dos 156 núcleos, 25 funcionam em unidades de internação. Uma equipe de assistentes sociais do Esporte e Cidadania acompanha os jovens quando terminam de cumprir as medidas socioeducativas.

Outro diferencial do projeto é o de não limitar suas ações às regiões centrais do Rio. Houve a preocupação de atender locais muitas vezes preteridos como a Baixada Fluminense e a Serra. “Recentemente, fui visitar alguns núcleos que são em locais que precisam de atividades esportivas ou culturais. São regiões que não recebem tanta atenção quanto o centro do Rio de Janeiro. Sendo um morador de uma região que fica afastada, além de fazer parte do projeto, vejo o grande benefício para essas comunidades afastadas. Estamos mostrando para o beneficiado que ele é cidadão”, explica Moisés Tedeschi, coordenador de área do Esporte e Cidadania.