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31 de janeiro de 2020
A presença de mulheres em conselhos de administração tem aumentado globalmente desde 2017, inclusive no Brasil. Os homens, porém, ainda ocupam a maior parte das posições nessas instâncias, cruciais para construir a longevidade das companhias. O estudo “Women in The Boardroom – Uma Perspectiva Global”, da Deloitte, mostra que promover a diversidade ainda é um longo caminho a percorrer no mundo dos negócios. Foram pesquisadas mais de 8,6 mil companhias em 49 países, incluindo o Brasil.
Segundo a pesquisa, a presença feminina nos conselhos cresceu 1,9% nos últimos dois anos. No mundo, elas detêm 17% desses assentos – e o progresso tende a seguir lento, como ocorre historicamente. No Brasil, os números são menos favoráveis: 8,6% dos assentos são ocupados por executivas. Já o crescimento foi tímido: 1%, em relação à última edição da pesquisa, de 2017. Entre os motivos, a cultura ainda atrasada no ambiente de trabalho e o preconceito.
“É comprovado que o aumento da participação feminina no mercado
de trabalho poderá influenciar significativamente, de forma positiva,
o PIB global nos próximos anos”, destaca Patricia Muricy, sócia da Deloitte
e recém-eleita para o Board da empresa no Brasil.
“Em conclusão à pesquisa, destacamos uma conexão entre o aumento do número de mulheres servindo nos conselhos e o desejo de um tipo mais inclusivo de capitalismo”, complementa a especialista.
Segundo Patrícia, para a equidade de gêneros avançar no mundo dos negócios, é preciso que passe do discurso para a prática, dia após dia. “Estudos como o Women in the Boardroom apontam o espaço que a diversidade de gêneros tem para ganhar, especialmente nos postos de liderança e nas altas esferas deliberativas”, completa. “Ampliar a diversidade, afinal, enriquece e fortalece a tomada de decisões.”
A diversidade, em geral, é justamente para onde os negócios devem caminhar, como diz Roberta Yoshida, sócia da Deloitte e, assim como Patrícia, recém-eleita para o Board da empresa no Brasil – ambas representarão quase um terço dos assentos dessa esfera de governança da empresa.
“A diversidade deve, principalmente, ser observada por um prisma abrangente, que envolva gênero e, também, raça e orientação sexual, além de diferentes gerações, culturas e realidades sociais, entre outros espectros. O objetivo é incluir de forma ampla e, com isso, multiplicar experiências e pontos de vista”, diz Roberta. “A soma de diferentes formas de pensar e de ver o mundo no ambiente de trabalho é um potente transformador dos negócios.”
Mulheres na liderança
O estudo da Deloitte também investigou a quantidade de mulheres em cargos de alta liderança. Globalmente, elas detêm 3,9% das posições de presidência, como CEOs, e 12,7% nas diretoras financeiras, como CFOs.
Avanços mais estruturais mostram-se bastante efetivos. Quanto mais mulheres são alçadas a posições de liderança, maior é a presença feminina na mais alta esfera da governança corporativa. Nas empresas em que mulheres presidem o conselho de administração, o percentual de executivas em altos postos é de 28,3%. Essa fatia cai a 17,1% nas empresas em que a presidência do conselho fica a cargo de um homem.
Para melhorar esses cenários, a Organização das Nações Unidas (ONU) e autoridades governamentais têm voltado a atenção à questão, ao discutir e colocar em prática iniciativas no Brasil e no mundo. Um projeto de lei que introduz cota de gênero de 30% de mulheres em conselhos, até 2022, inclusive em empresas públicas, estatais e de economia mista, está sendo elaborado e discutido na Câmara dos Deputados, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher.
Também em andamento, o Programa Ganha-Ganha – conduzido pela ONU Mulheres, União Europeia e Organização Internacional do Trabalho – tem como objetivo promover o empoderamento feminino econômico e a liderança das mulheres, por meio de premiação das empresas que promovem a cultura de equidade de gênero.
Outro destaque global é o 30% Club, lançado em 2010 no Reino Unido pela executiva Helena Morrissey e que, neste ano, chegou ao Brasil, após Austrália, Canadá, Estados Unidos, entre outros. O objetivo, no Brasil, é alcançar 30% de mulheres nos conselhos de empresas listadas na B3, a bolsa de valores brasileira, e que são parte do IBrX 100, índice com os principais ativos do mercado de ações do País.
Algumas empresas também já investem em programas próprios para aumentar o número de executivas em seus cargos de direção, como é o caso da própria Deloitte. “Em 2017, a Deloitte Brasil assumiu o compromisso de seguir os Princípios de Empoderamento das Mulheres, cartilha da ONU Mulher, por meio de um Comitê dedicado à questão de equidade de gênero. Programas de treinamento, orientação, networking, apoio à liderança, à implementação de programas de maternidade e paternidade, bem como trabalho flexível são alguns dos pontos abordados internamente”, afirma Angela Castro, sócia da Deloitte e líder no Brasil do Programa ALL IN na frente de fortalecimento da posição das mulheres.
“Acreditamos que todas as empresas devem permanecer comprometidas com a diversidade e incentivar a sociedade a criar atitudes positivas em relação ao desenvolvimento de carreiras femininas”, finaliza a executiva.