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30 de novembro de 2018
A área de health care passa por uma significativa jornada de inovação, na busca para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, o trabalho dos profissionais da saúde, a redução de custos e a implementação de serviços mais eficientes. Há, no entanto, um longo caminho a ser percorrido.
O estudo da Deloitte “The Right Health Care the Right Way” expõe um cenário de procedimentos hospitalares que ainda são utilizados indevidamente e, no sentido contrário, mostra iniciativas bem-sucedidas de países como Brasil, Estados Unidos, Reino Unido e Singapura para conter a utilização de tratamentos ineficazes e desnecessários, obtendo excelentes resultados.
O objetivo dessas ações é aprimorar a qualidade do atendimento e a eficiência operacional, trabalhando em medidas preventivas e de conscientização dos pacientes nos cuidados à saúde, diminuindo assim as filas no pronto-atendimento e reduzindo atendimentos emergenciais de alta complexidade, que representam os tratamentos de maior custo.
Tecnologia, treinamento e conscientização
Um dos destaques do estudo é o projeto brasileiro Parto Adequado, que conseguiu reduzir a taxa de cesarianas em 12% em 18 meses, usando a tecnologia para treinar equipes médicas.
Em 2015, houve uma união entre 26 hospitais públicos e privados de todo o Brasil para iniciar o projeto-piloto para diminuir a taxa de nascimentos por cesarianas feitas desnecessariamente. Em 2017, mais da metade dos nascimentos ocorreu por cesariana, procedimento associado à elevação dos riscos de complicações pós-parto.
Entre as principais mudanças conduzidas pelo projeto brasileiro estão a composição de equipes multidisciplinares para os partos, o uso de métodos não fármacos para aliviar a dor das parturientes e o fornecimento de explicações adequadas às gestantes, com base em evidências médicas, sobre suas opções para a hora do nascimento. “Educação, informação e formação tanto para os futuros pais quanto para os médicos são elementos importantes para reduzir o uso excessivo de cesarianas”, pondera Gustavo Lucena, sócio de Risk Advisory da Deloitte.
Em todo esse processo, a tecnologia é aliada: as equipes médicas foram treinadas a fazerem partos normais com robôs-pacientes interativos, via Wi-Fi. “O aprendizado deste projeto foi revelador e as ações ainda precisam ser estimuladas em todas as áreas de atendimento à saúde. A mudança cultural é fundamental e o apoio do corpo clínico dos hospitais é vital para o engajamento”, comenta Lucena.
Desafios rumo à inovação
Em sua opinião, o desenvolvimento de modelos replicáveis de treinamento de médicos assim como a experiência robótica do Projeto Parto Adequado pode revelar-se um importante caminho para trazer soluções inovadoras em escala para a saúde pública e para o público-alvo.
No entanto, Gustavo Lucena explica que a resistência com a tecnologia deve ser o maior desafio das empresas de saúde. Ele cita, como exemplo, a tarefa de digitalização dos prontuários médicos e a criação de novos processos. “É uma atividade nova para estes profissionais, que vai além da atividade assistencial.”
Lucena alerta que a inovação na área da saúde deve considerar que o profissional do setor também erra, assim como acontece em outros segmentos. “Apoiar a equipe nesse sentido permite que lições valiosas sejam aprendidas para evitar que os erros se repitam.”
Enrico Vettori, sócio-líder de Life Sciences & Health Care da Deloitte, reforça que, com o maior uso de tecnologia, as informações se tornam mais ágeis. “Permitir que os erros no atendimento ao paciente sejam livremente relatados em milissegundos será a maior inovação na cultura de responsabilidade na saúde, para que o hospital busque as inovações nos processos e nos sistemas e crie protocolos nas práticas assistenciais e nas práticas médicas inovadoras para a segurança do paciente.”
Foco no atendimento
A tecnologia pode também permitir a implementação, o funcionamento e o monitoramento de estratégias bem-sucedidas, para reduzir o atendimento de baixo valor em diversos contextos (casos que não precisariam ser tratados como urgência, otimizando assim o pronto-atendimento).
“Além dos possíveis erros médicos e da ineficiência operacional gerarem dispêndio de recursos financeiros, há o risco à vida humana, além do impacto negativo direto na experiência do paciente”, completa Vettori.
“Quanto maior o engajamento do paciente nos cuidados de baixa complexidade, destinando-se à prevenção e ao maior cuidado com sua saúde, maior será sua longevidade e sua qualidade de vida”, pontua Lucena.
Inovações na saúde
- Conceito de hospital sem papel: maior uso da tecnologia, do pronto-atendimento até a alta do paciente
- Tecnologia médica: auxilia o médico nas escolhas ao longo do procedimento (imagem, cirurgia, robótica, impressão 3D de OPMES)
- Tecnologia da Informação e Comunicação (TICS): efeito “Amazon”, com cadeia de suprimentos eficiente, reduzindo capital de giro (Softwares de gestão e Sistemas Hospitalares)
- Conectividade: Internet das Coisas, com dispositivos conectados no tratamento e monitoramento do paciente
- Integração de dados: hospital “data-driven” (controlado por dados, conectado), para suporte à tomada de decisão (integração de dados, análises avançadas e inteligência artificial)
- Impressão 3D: OPMES (órteses, próteses e materiais especiais) e instrumentos médicos customizados
- Cuidado otimizado: compartilhamento de riscos na qualidade dos desfechos
- Telemedicina: aumentar a abrangência via conectividade