Uma geração que dorme e acorda com o celular, mas não pode usá-lo dentro do colégio. Produz conteúdo e seleciona o que quer ver na internet, mas encontra uma aula com roteiro fixo, em que na maioria do tempo só o professor fala. O mundo mudou nas últimas décadas, e a escola, para continuar sendo efetiva em seu papel formador, precisa acompanhar essas transformações.

 

Pesquisa realizada pelo Porvir, iniciativa de comunicação e mobilização social em inovações educacionais, revelou que boa parte dos adolescentes e jovens deseja ter mais voz ativa no processo de aprendizagem. Segundo o estudo, que ouviu jovens com idades entre 13 e 21 anos, 25% dos entrevistados gostariam de escolher todas as disciplinas que vão estudar, enquanto 21% disseram que queriam ter a chance de eleger ao menos algumas delas. Já 51% afirmaram acreditar que a tecnologia não deve se restringir ao laboratório de informática.

 

Nomeada de “Nossa Escola em (Re)Construção”, a sondagem, feita em 2016 junto a 132 mil alunos e ex-alunos de todos os estados do país, foi transformada em ferramenta aberta de escuta para colégios e redes de todo o Brasil.

 

“Esses dados apontam não apenas para a necessidade de se adicionar recursos que dialoguem com uma geração que está em contato com a tecnologia desde muito cedo, como também para uma mudança conceitual da própria escola e do papel que o estudante desempenha nela”, resume Vinícius de Oliveira, editor do Porvir.

 

Uma das mudanças mais prementes está na forma de ensinar. O estudante de hoje se habituou a raciocinar de maneira não linear, aprende por conexões e navega em conteúdos multidisciplinares. Por isso, dificilmente uma aula no tradicional formato de palestra será capaz de prender a atenção dele por muito tempo. E é aí que a tecnologia tem papel-chave.

 

Recursos como smartphones, tablets, aplicativos, por exemplo, ajudam a tornar o ato de estudar mais lúdico e atraente, assim como plataformas on-line estimulam a interação e dão flexibilidade ao aluno, já que podem ser acessadas de qualquer lugar.

 

“Com a facilidade de se compartilhar materiais, alguns professores têm recorrido a vídeos, que funcionam como pílulas da matéria a ser estudada. Outros buscam tornar as aulas mais dinâmicas por meio de games, concedendo bônus e benefícios para aqueles que alcançam os objetivos”, cita Wellingthon Honorato, gerente de produto para cloud da Dedalus, empresa especializada serviços de computação em nuvem.

 

A transformação digital também pode facilitar a rotina dos educadores. Um exemplo é uso de recursos para automatizar tarefas burocráticas, como correção de provas e elaboração de relatórios, economizando um tempo que pode ser dedicado à qualificação.

 

Recursos como Machine Learning e Big Data, são capazes de identificar, pelo padrão de estudo, quais alunos precisam de reforço, sugerindo materiais de ensino e diferentes formas de abordagem. Além disso, essas ferramentas ajudam a prever comportamentos que indicam uma tendência à evasão escolar. “Com isso, o professor pode intervir, marcar reunião com os pais dos estudantes, entender o problema e tentar impedir que alunos interrompam os estudos”, exemplifica Honorato.

 

Desafios e soluções

Mas não basta simplesmente apostar na transformação digital. A escola e o docente devem estar prontos para encarar essa nova realidade. “Fazer isso sem um plano de uso, uma metodologia, não tem sentido”, destaca Priscila Gonsales, consultora da Unesco para educação aberta e diretora executiva do Instituto Educadigital, organização que desenvolve projetos para o uso pedagógico de tecnologias. Segundo ela, muitos professores estão interessados em levar recursos tecnológicos para a sala de aula, mas não estão preparados. “Não acho que seja resistência. A jornada do profissional é pesada e o tempo para capacitação e atualização nem sempre existe”.

 

Ela avalia que uma das dificuldades enfrentadas pelo professor é ter de aprender sobre inovações ao mesmo tempo que os alunos. “Ele se acostumou a saber de tudo primeiro, mas quando o assunto é tecnologia, o estudante sabe tanto ou até mais”, diz a especialista. Por isso, é preciso buscar saídas mais colaborativas, trazer os jovens para construírem o conhecimento de forma conjunta.”

 

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