Gerenciamento de dados dos pacientes vira aliado na prevenção

Leitura e monitoramento correto das informações dos pacientes podem ser a chave para uma medicina mais preventiva e preditiva
Evento reuniu importantes nomes da medicina para discutir rumos, desafios e perspectivas do setor – Foto: Valeria Gonçalvez

As empresas da área da saúde contam com um volume muito grande de informações que poderia ser útil para antecipar o cuidado e gerar um uso mais eficiente e econômico do sistema como um todo. A melhor forma de fazer isso é uma das discussões mais frequentes em relação à modernização dos serviços de saúde. Os dados do paciente já são uma forma de diagnósticos por si só, segundo Gustavo Gusso, diretor médico da Nexa Digital, que participou do painel O uso da tecnologia para antecipação do cuidado, parte do Fórum Estadão Think Inovação e Excelência Médica como Diferencial, realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo em parceria com a Dasa. Importantes nomes da medicina encontram-se dia 5 de setembro no Cubo Itaú, em São Paulo, para discutir rumos, desafios e perspectivas do setor. 

“Se ele faz mais ou menos exames, se procura mais ou menos o pronto-socorro, se monitora ou não sua condição de saúde. Você não precisa fazer tantos exames para descobrir que uma pessoa tem risco de internar, por exemplo. Os dados já trazem esses diagnósticos”, afirma Gusso. 

O atual modelo de saúde, em que o sistema permanece em uma atitude passiva à espera que o paciente o procure, deve mudar. Com base no histórico de cada indivíduo, é possível gerar informações que sirvam de alerta para os problemas antes que eles aconteçam. “O paciente faz um exame de diabetes completamente descompensado. Será que esse resultado chegou ao médico? Quantas vezes ele repetiu esse exame em um ano? Se eu cruzar esses e outros dados, posso constatar que a pessoa vai ter uma complicação. Se isso não for sinalizado, perdemos a oportunidade da prevenção”, comenta Otávio Gebara, diretor clínico do Hospital Santa Paula. 

Poder ao paciente

A perspectiva dos especialistas é que essa mudança de visão traga mais poder para os indivíduos, que terão mais acesso às informações sobre a própria saúde. “Vamos ter muitos insights para os pacientes e para os médicos baseados em dados. Isso vai gerar um nível de responsabilidade para o paciente maior do que ele tem hoje”, espera Emerson Gasparetto, vice-presidente da área médica da Dasa e um dos participantes do evento. As pessoas terão mais consciência do seu estado de saúde – sabendo, por exemplo, que o exame realizado recentemente está muito diferente do seu histórico ou que o cruzamento de dados sobre sua pressão arterial indica um perfil de risco. “Com AI e a análise de dados, você torna o indivíduo mais senhor da sua situação. O paciente vai ser o CEO da saúde dele”, resume Gebara. 

Mas como desenvolver estratégias para que as informações possam ser efetivamente revertidas em novas condutas? Essa tem sido uma das discussões entre os especialistas da área. “Temos feito parcerias e conversas com as operadoras e com os médicos, para entender como transformar esses dados em ações para melhorar a vida das pessoas”, declara o vice-presidente da área médica da Dasa. 

Além disso, o cuidado com a privacidade e o uso ético e legal das informações são pontos de atenção. “Essa é uma questão muito importante. São dados privados. Não podemos pegá-los e mandar para terceiros”, alerta Gebara. Nesse sentido, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, sancionada no ano passado, traça os limites do uso dessas informações. É preciso uma autorização expressa do indivíduo para que a coleta de dados ocorra, e a ampla informação sobre como empresas públicas e privadas tratam esses dados. “Acreditamos que foi uma excelente iniciativa. A lei protege muito o paciente dentro da nossa realidade. Leva em conta e respeita a privacidade e o dado do paciente”, conclui Gasparetto.

Possibilidades do uso de dados

Conheça algumas aplicações que podem trazer benefícios para os pacientes

Compartilhamento de dados: a chamada interoperabilidade realiza uma interação de dados de diversas instituições  de saúde: hospitais, laboratórios, clínicas, farmácias. Assim, o histórico do paciente fica completo e não somente com informações de determinado local que ele frequentou,  o que permite mais precisão. 

Histórico de exames: as empresas de medicina diagnóstica poderão analisar todo o histórico de exames de um paciente e criar informações que sejam úteis para a prevenção e a melhora da qualidade de vida. É uma forma de se antecipar aos problemas. Além disso, os médicos podem receber esse histórico junto ao exame solicitado, o que permite uma visão mais ampla da saúde do paciente.

Acompanhamento em tempo real: os dados vitais dos pacientes internados podem ser monitorados e avaliados de forma permanente pelos algoritmos, inclusive com o cruzamento de informações do histórico desses indivíduos.  Isso pode evitar complicações por altas precoces, exames e até cirurgias desnecessárias. 

Tecnologias vestíveis: as wearables também são formas de monitorar e fornecer dados de saúde. Os aparelhos colhem informações e a própria pessoa pode dar mais detalhes sobre a sua rotina e, se desejar, compartilhar com sua equipe médica.

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