Por um tempo, Nathalia Cristina Pestana Fernandes, 20 anos, achou que a faculdade fosse um sonho distante demais. Quando concluiu o ensino médio na rede pública, a jovem de São Bernardo do Campo, na grande São Paulo, tentou o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), mas, sem nota suficiente para uma vaga em universidade pública, a única opção seria a rede privada. Porém, ela estava desempregada, assim como sua mãe, e pagar o valor integral da mensalidade era inviável.

A dificuldade não desanimou a estudante, que decidiu tentar o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), ofertado pelo governo federal para alunos que, assim como Nathalia, não dispõem de recursos para a faculdade. “Eu me inscrevi em 2017, assim que foi anunciado o calendário de vagas. Após um cadastro, pude ver as notas de corte e as opções de curso. Eu passei para três opções e escolhi o curso de Engenharia de Produção”, conta. Com a oportunidade, ela recebeu o prazo de 15 anos para quitar o valor do curso, que começará a ser pago após sua formatura.

Escolha da forma de pagamento
No Fies, quando a escolha do curso é feita, o estudante pode acessar o sistema onde vai definir suas condições de pagamento e o que será pago nos próximos anos. No caso de Nathalia, o valor da parcela inicial saiu por menos de R$ 100. No sistema online disponibilizado pelo Ministério da Educação, é preciso decidir se o financiamento será para todo o curso ou apenas parte dele, e também estipular o valor a ser pago em cada parcela. “Para muitos pode ser um contrato longo demais, mas ajuda quem não tem condições de pagar um valor muito alto, e você tem a vantagem de se formar e depois pagar”, diz Nathalia.

Ela é um dos mais de 149 mil estudantes que contrataram em 2017 a modalidade conhecida como “novo Fies” – e que já não é tão novo assim, pois se refere a uma atualização das regras do programa feita em 2015, ano em que a oferta de vagas recuou e ficou mais difícil conseguir esse tipo de recurso. Com a mudança, duas versões do programa passaram a existir: o Fies convencional e o P-Fies, no qual as condições de concessão do financiamento serão definidas entre o agente financeiro operador do crédito (ou seja, um banco), a instituição de ensino e o estudante.

Segundo Paulo Presse, coordenador da área de estudos de mercado da consultoria Hoper, embora as regras tenham mudado, o Fies ainda é uma das principais opções para quem precisa de financiamento no longo prazo. O programa pode ter taxa zero de juros na versão convencional e chegar a até 6,5% de juros ao ano na modalidade P-Fies. Em ambos os casos, é possível financiar até 100% do valor do curso e iniciar o pagamento em até 18 meses após o recebimento do diploma.

Ciclo de mudanças
O Fies foi lançado em 1999, mas passou a ficar conhecido entre os estudantes em 2010, quando foi reformulado pela primeira vez e passou a ter juros abaixo da inflação. Além disso, nem sempre era necessário ter um fiador, e a oferta de vagas era grande, chegando a atingir um pico de 733 mil ofertas em 2014. Em 2015, porém, as regras do programa mudaram significativamente, e passaram a contemplar um leque menor de opções de cursos e priorizar o acesso a algumas regiões do País.

No primeiro semestre de 2018, data do último levantamento do setor, cerca de 80 mil vagas foram ofertadas pelo Fies, demonstrando o tamanho da redução nessa modalidade.

Segundo a regulamentação do Ministério da Educação e de especialistas na área, embora novas mudanças possam ocorrer no futuro, elas não afetam diretamente os alunos antigos do programa, servindo apenas para novos financiamentos.