Contrariando um prognóstico inicial, a 16ª edição do Rally da Safra – expedição técnica organizada pela Agroconsult, que percorre o Brasil visitando as principais regiões produtoras – está sustentando que a atual safra da oleagionosa será de 118 milhões de toneladas, provenientes de uma área plantada de 36 milhões de hectares. “Vamos ter uma quebra de safra em relação ao ciclo anterior [que registrou 120 milhões de toneladas], mas não será uma quebra severa”, diz André Pêssoa, sócio diretor da Agroconsult. “Estamos reduzindo a produtividade recorde do ano passado de 57,9 sacas de soja por hectare para 54,6 sacas por hectare”, acrescenta.
Anteriormente, o sexto levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado no mês passado, havia reduzido a previsão da safra brasileira de soja 2018/2019 para uma colheita menor, de 113,4 milhões de toneladas. A estimativa anterior era de 115,3 milhões de toneladas.
A base para o veredito de uma safra melhor está nos dados coletados pelas equipes nesta primeira etapa do Rally, referente às lavouras de soja verão. Nessa fase, foram percorridos 81 mil quilômetros e coletadas 1.315 amostras em campo. “Contamos a quantidade de plantas, o número de vagens e de grãos por planta, o peso dos grãos, analisamos a distribuição da semeadura, fazemos o teste de transgenia, avaliamos a produtividade, plantio direto, manejo de palhada, bem como incidência de pragas, doenças e ervas daninhas”, diz o diretor da Agroconsult.
Lavouras precoces não foram bem
As regiões que registraram maiores perdas foram as de lavouras precoces visitadas pelo Rally antes do carnaval. “Todo mundo que produz soja precoce colheu menos que o ano passado claramente em função das condições climáticas: um novembro muito chuvoso com pouca luz e um clima seco em dezembro e janeiro com temperaturas altas”, diz Pêssoa.
O Paraná e o Mato Grosso do Sul são os estados com as maiores quebras de safra (vide tabela). As lavouras paranaenses de soja de ciclo precoce computaram perdas de até 40%, sobretudo a região oeste, em que ficam cidades como Cascavel, Medianeira e Toledo. O veranico também impactou as variedades precoces do sul do Mato Grosso do Sul, mas não tão intensamente como no Paraná.
A mesma história se repetiu no Triângulo Mineiro. As variedades de soja precoce não foram bem. Em contrapartida, as médias e tardias registraram um bom resultado. Foi o caso do produtor Júlio Cesar Pereira Júnior, da Fazenda Pombo, em Uberlândia. Com 3.200 hectares destinados à soja de ciclo médio (110 dias), ele obteve nesta safra uma produtividade média de 68 sacas por hectare. O resultado é um pouco inferior ao do ano passado, em que computou 73 sacas por hectare, mas muito acima da produtividade média calculada pela Agroconsult para estado, que é de 55 sacas por hectare.
Região Sul se destacou
A surpresa deste ano foram os registros do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. “Foram as duas últimas regiões a serem visitadas e os dois melhores resultados em termos do que era esperado e do que foi visto”, pontua Pêssoa. Na região das Missões, os gaúchos precisaram fazer o replantio da soja por causa do excesso de chuva em outubro, mas isso não prejudicou a colheita. “Quando chegamos lá, as lavouras estavam boas, tanto da soja que foi replantada quanto daquelas que não foram”, diz o consultor.
Com isso, o Rio Grande do Sul alcançou a maior produtividade de sua história: 57,6 sacas por hectare contra 54,5 do ano passado. Santa Catarina, que no ciclo anterior sofreu com a incidência de mofo branco, neste ano não teve perdas significativas com o fungo. A produtividade do estado saltou de 57,8 sacas por hectare para 60 sacas por hectare.
Balanço positivo
Na avaliação geral, a safra de soja 2018/2019 teve o melhor início já registrado até hoje. “O plantio foi muito bem feito, as lavouras ficaram com um bom estande [população] e uma boa distribuição de plantas. Apesar do grão pesar menor, a quantidade de grãos por hectare era maior que o ano anterior”, finaliza o diretor da Agroconsult.
Principais quebras de produtividade do Rally
Estado | Safra 2017/2018 | Safra 2018/2019 |
Paraná | 58,8 * | 51,3* |
Mato Grosso do Sul | 60,0 * | 50,4 * |
* sacos por hectare
Fonte: Agroconsult