Decidir iniciar um negócio em tempos de crise definitivamente exige coragem. Que o diga o publicitário Eduardo Aristides (foto acima). No final de 2015, ele resolveu deixar o escritório de comunicação onde trabalhou por quase uma década para abrir uma quitanda. De lá para cá, teve de aguentar firme as sucessivas turbulências nos cenários econômico e político do País, assim como milhões de outros empreendedores — em setembro deste ano, por exemplo, eram 5,327 milhões de micro e pequenas empresas inadimplentes, conforme levantamento da Serasa Experian, o maior número já apurado desde que a pesquisa começou a ser realizada, em março de 2016.

“Costumo brincar que, durante esses três anos, eu só naveguei pelo ‘Cabo das Tormentas’. Teve o impeachment [da ex-presidente Dilma Rousseff], a instabilidade do atual governo e, em outubro passado, a eleição presidencial”, resume.

Como se diz popularmente, o publicitário “trocou o certo pelo duvidoso” em busca de uma realização que o antigo trabalho não estava mais oferecendo. Apesar da segurança financeira que havia conquistado, entendeu que era o momento de recomeçar. Mesmo com os percalços, não se arrependeu.

Neto, filho e sobrinho de feirantes, quis retomar as próprias raízes e fez uma releitura do negócio da família. Vendeu o escritório para um de seus sócios à época e, com o capital, no final de 2015, abriu na cidade de São Paulo a Quitanda do “Seu” Aristides — homenagem ao avô —, justamente no momento em que o PIB brasileiro apresentava queda de 3,5%.

“Quando a economia funciona normalmente já existe necessidade de capital de giro para pagar as despesas. Mas, em uma situação de crise ou de algo inesperado como a última greve de caminhoneiros [paralisação ocorreu em maio deste ano], a reserva pode fazer a diferença para a sobrevivência do negócio”, aponta Cláudio Rabelo Figueredo, gerente de micro e pequenas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Com um faturamento aquém do esperado, as dívidas de Eduardo começaram a acumular e passaram a ameaçar a quitanda já em seu primeiro ano de vida. “O custo operacional de uma loja é muito grande. Tivemos aumentos nas contas de energia e de água. Além disso, há salários que não podem atrasar, impostos, que são altos”, enumera Eduardo Aristides.

Para superar esse período de adversidades, ele sentiu que era preciso reforçar o caixa da empresa. Após pesquisar as opções existentes no mercado, optou por um financiamento de R$ 40 mil por meio da linha BNDES Giro. “Antes, eu acreditava que o BNDES atendia apenas empresas muito grandes. Mas descobri que também o banco também está disponível para o pequeno e o médio. Fui muito bem atendido e consegui o crédito mais saudável que poderia: as taxas eram mais acessíveis e recebi uma carência de três meses para começar a pagar”, diz.

 

Novo fôlego

O dinheiro foi fundamental para que a quitanda ganhasse novo fôlego. No ano seguinte, já com as contas equilibradas, o empreendedor viu necessidade de fazer um novo financiamento. Desta vez, porém, o motivo era outro: pegou o dobro do valor para ampliar a loja e dar conta do aumento da demanda.

Para selecionar a linha mais adequada, ele recorreu à ferramenta de simulação presente no site do BNDES. Depois de avaliar todas as opções, escolheu novamente o BNDES Giro.

“Ao contrário de outras linhas de crédito, que são voltadas para finalidades específicas, como aquisição de máquinas e equipamentos, por exemplo, o BNDES Giro não tem destinação obrigatória. Isso significa que o empresário pode usar a verba para custear despesas, fazer investimentos ou mesmo para reestruturar uma dívida, trocando-a por outra de longo prazo e juros mais baixos”, explica Figueredo.

Aristides conta que o resultado do segundo financiamento foi imediato, e a quitanda chegou a dobrar de faturamento nos primeiros meses. “Deixei a publicidade de lado para me dedicar a uma vocação herdada do meu avô, que veio de Portugal para o Brasil no início da década de 1950 para trabalhar como feirante. O BNDES ajudou a manter esse sonho em pé na dificuldade, e também pretendo contar com ele para crescermos no futuro.”