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13 de setembro de 2017

Régis Bittencourt investe em inteligência e reduz acidentes pela metade

A soma de movimento intenso, trechos urbanos e trajeto sinuoso frequentemente resulta em acidentes nas estradas brasileiras. De que forma mudar essa contabilidade sinistra? Na Régis Bittencourt, que já foi conhecida como “Rodovia da Morte”, a solução tem sido recorrer a iluminação, placas de sinalização, painéis de mensagens variáveis, câmeras, obras estruturais, passando por campanhas públicas e pesquisa de ponta. Com isso, na parte da BR-116 que liga São Paulo a Curitiba, a quantidade de óbitos caiu 55% nos últimos seis anos. Ela cumpre, assim, a meta da Década de Ação pela Segurança no Trânsito, da Organização das Nações Unidas (ONU), que prevê cortar pela metade o número de fatalidades nas estradas até 2020.

Inaugurada em 1961, a Régis era administrada pelo governo federal até 14 de fevereiro de 2008, quando foi assinado o contrato de concessão com a Arteris. Desde então – e por 25 anos -, cabe à companhia fazer manutenção e melhorias nos 402,6 quilômetros da rodovia.

“Nosso desafio principal sempre foi buscar a redução dos problemas de segurança para acabar com a alcunha de “rodovia da morte” que ela recebeu graças ao alto í­ndice de fatalidades registradas no passado”, diz o diretor superintendente da Régis, Nelson Bossolan.

Algumas questões estruturais contribuíram para a má fama – não era só baixa frequência na manutenção da pista e da sinalização. A rodovia tem mais de 200 curvas. Além disso, é eixo fundamental entre o Brasil e os demais parceiros do Mercosul e liga dois dos principais portos do Paí­s: Santos e Paranaguá. Caminhões e ônibus representam a maior parte do tráfego (60%, mas a porcentagem chega a 90% em algumas épocas). “Há muitos trechos de serra. Qualquer acidente é de alto risco e gera um transtorno considerável”, diz Eneo Palazzi, membro do conselho de administração da Régis Bittencourt.

Primeiro, as emergências

Após a assinatura da concessão, o primeiro passo foi tomar medidas emergenciais: substituir placas velhas por novas, pintar faixas de rolamento, melhorar a pavimentação e a iluminação e estabelecer um serviço contínuo de limpeza na pista e de poda de vegetação.

“Nos canteiros centrais, o mato era tão grande que acumulava entulho, como pneus e lixo. Isso dificultava ver placas e a própria rodovia”, diz o diretor operacional corporativo da Arteris, Angelo Lodi. Atualmente, equipes para roçar e limpar as áreas do entorno cobrem toda a extensão da estrada, usando caminhões-vassoura e retroescavadeiras com a finalidade de manter o asfalto em boas condições.

Outra ação importante foi o oferecimento imediato de serviços 24h. Até então, quem se acidentasse precisava recorrer aos bombeiros ou ao resgate da cidade mais próxima. “Em agosto de 2008 nós disponibilizamos guinchos e ambulâncias usando bases provisórias e, com o tempo, elas foram ganhando espaço definitivo”, diz Lodi.

Da prancheta à obra

Após a etapa inicial, que durou em torno de seis meses, a Arteris lançou projetos mais estruturais. Para isso, conduziu diversos estudos que examinaram os pontos onde havia maior número de ocorrências e onde aconteciam as mais graves. Foram identificados 240, 80 deles considerados prioritários.

“Um grupo formado por equipe multidisciplinar identificou cada um desses locais e, com base nas caracterí­sticas – e nos tipos mais frequentes de acidente, planejou e executou medidas para reduzir as cifras”, explica o gerente corporativo de operações, Elvis Granzotti.

Teve início, então, a implantação de um conjunto de estratégias para enfrentar as causas responsáveis por quase nove em cada dez mortes na Régis: atropelamento de pedestres, capotamento, colisões transversais, frontais e traseiras. (veja infográfico)

Onde havia alto í­ndice de atropelamento, a concessionária construiu passarelas e instalou alambrados no canteiro central, coibindo a travessia pela pista. Os retornos em ní­vel, que aumentam risco de colisões transversais, estão sendo substituídos por retornos em desní­vel (acima ou abaixo da estrada). Para diminuir capotamentos, a Arteris instalou barreiras de concreto que evitam que o veí­culo caia da pista.

Em trechos com predominância de colisões frontais, estão em curso obras de duplicação e colocaram-se balizadores de modo a impedir que um veí­culo invadisse a faixa oposta. Para combater colisões traseiras, iluminação e sinalização foram reforçadas. “Graças a esse trabalho de inteligência, nós praticamente zeramos as fatalidades nesses 80 pontos”, frisa Bossolan.

Sistema tecnológico

Em paralelo a essas ações, a Arteris implantou uma rede de fibra ótica ao longo da rodovia. A tarefa é especialmente desafiadora, por se tratar de uma região repleta de encostas – durou um ano, e hoje permite que o Centro de Controle Operacional receba dados em tempo real de um sistema que inclui 196 câmeras, 14 painéis eletrônicos de mensagem, duas estações meteorológicas, seis estações de análise de tráfego e 17 radares fixos.

“Nossas estações meteorológicas estão instaladas junto às duas serras cortadas pela Régis, a do Cafezal e a do Azeite. Assim, conseguimos identificar neblina e chuva intensa e deslocar veí­culos operacionais para atendimento proativo, ou avisar os usuários por meio dos painéis eletrônicos”, explica o superintendente de Tecnologia e Inovação da Arteris, Ricardo Casagrande.

Todas as 14 ambulâncias dispostas ao longo da rodovia são acionadas e orientadas a partir das imagens recebidas na central. “Temos um médico regulador que fica no Centro de Controle Operacional, na sede da concessionária, em Registro. Pelas imagens e pela dinâmica do acidente, ele tem a percepção de prováveis traumatismos. Com isso, sabe quais veí­culos serão enviados e já vai orientando o resgatista”, resume Bossolan.

Mais segurança e menos trânsito

As mudanças também resultam em atendimentos mais rápidos, – essenciais tanto para salvar vidas quanto sinalizar o local e liberar logo a passagem – evitando grandes congestionamentos e minimizando o risco de acidentes de final de fila (batida em veí­culos que já haviam colidido). Quando a central é noticiada sobre um problema, a equipe verifica o quilômetro do incidente e dispara um chamado para a base mais próxima. Um sistema com GPS detecta em tempo real a viatura que tem condições de chegar primeiro, e ela é então direcionada ao lugar.

“Antes, um caminhão demorava horas para ser removido. Hoje, temos bases operacionais a cada 40 ou 50 quilômetros que permitem fazer isso rapidamente. Nossas ambulâncias chegam em até 15 minutos e os guinchos, em 20″, afirma Granzotti.

Outras linhas de atuação são o apoio a campanhas junto a vários públicos, como no Projeto Escola e nos programas Viva, e parcerias com institutos e universidades.

Um estudo realizado com a USP, por exemplo, usou simulador para reproduzir uma parte crítica da rodovia e verificar a percepção do motorista em relação a diferentes sinalizações. “Mudamos a distância e a posição das placas, aumentamos e diminuímos seu tamanho, trocamos as cores e verificamos qual combinação resultava na reação mais rápida, descreve Lodi. “Implantamos a nova proposta de sinalização a partir desses resultados e tivemos declí­nio de acidentes. Agora, estamos repetindo o estudo em mais pontos crí­ticos.”

Outra pesquisa concentrou-se no desenvolvimento de um tipo de asfalto que aumenta o atrito dos pneus durante as chuvas, prevenindo derrapagens e capotamentos. Implantado em dois trechos da Régis, contribuiu para reduzir em 90% o nímero de acidentes em um dos locais, e em 32% no outro.

Redução de acidentes

Atropelamento: -52%

Colisão lateral: -20%

Colisão traseira: -37%

Colisão frontal: -67%

Capotamento: -80%

Outros: -50%

Total: -55%

Fonte: Arteris

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