Hipnose

A mente sob controle

Pode soar meio inacreditável que um simples gesto com as mãos seja suficiente para colocar uma pessoa em transe. Mas a hipnose realmente tem esse poder e é levada a sério por médicos, cientistas, psicólogos e até policiais, que recorrem aos seus benefícios como apoio a tratamentos e até para solucionar crimes.

Fatos curiosos

Famosos hipnotizáveis

Albert Einstein

O físico Albert Einstein era um adepto da hipnoterapia. Reza a lenda que o pai da teoria da relatividade passava por sessões de hipnose todas as tardes para se concentrar e colocar em prática suas ideias.

Ellen DeGeneres e Matt Damon

Hipnose também é uma opção para quem quer parar de fumar sem ter de mascar chicletes ou usar adesivos de nicotina. A atriz e apresentadora americana Ellen DeGeneres diz que foi após a hipnose que conseguiu se livrar do vício. Matt Damon, ator de Gênio Indomável, também parou de fumar assim.

Fergie

A cantora Fergie usou a hipnoterapia durante o tratamento de reabilitação contra drogas. A ex-vocalista do Black Eyed Peas foi viciada em cocaína, metanfetamina e ácido.

Kate Middleton

Com fortes enjoos durante a gravidez do príncipe George, a duquesa de Cambridge Kate Middleton recorreu à hipnoterapia para aliviar os sintomas e recuperar o apetite.

Britney Spears, Lily Allen, Courtney Love e David Beckham

A hipnose também dá uma mão para quem quer continuar firme na dieta. Britney Spears, Lily Allen, Courtney Love e David Beckham afirmam que usam a hipnose para emagrecer.

Olivia Munn

Já a atriz e modelo Olivia Munn descobriu na hipnose uma aliada importante contra a preguiça. Graças às sessões, cria coragem para se exercitar.

Histórias surpreendentes

ENFIM MÃE

Foi com a ajuda da hipnose que a britânica Leah Elliott, de 40 anos, conseguiu engravidar após cinco abortos espontâneos. A hipnose ajudou aliviando o estresse diário e criando um ambiente mais propício para que ela gerasse o pequeno Joseph Born, que veio ao mundo em março de 2015.

ROUBO NÃO-VIOLENTO

Em Londres, um homem assaltou o dono de uma loja de conveniência com apenas um toque. Após conversar rapidamente com o dono do estabelecimento, o ladrão tocou em seu braço e o hipnotizou. Depois de pegar o dinheiro que estava no bolso do hipnotizado, o gatuno saiu normalmente da loja como se nada tivesse acontecido. Minutos depois, o roubado despertou e ainda teve o reflexo de segurar o braço do ladrão, mas ele já havia sumido.

HISTERIA CONSTANTE

Não era a Shakira no palco, mas a histeria foi coletiva. O caso aconteceu na Colômbia, onde 42 estudantes de uma escola da cidade de Mocoa, após um espetáculo de hipnose, não conseguiram despertar do transe. Depois de serem atendidos no hospital local, foram diagnosticados com neurose coletiva pelo evento da hipnose. Os jovens já estavam em sala de aula quando começaram a gritar todos juntos. O problema é que o espetáculo tinha terminado havia 40 minutos.

NÃO FAZ MILAGRE

Já se sabe que a hipnose faz uma pessoa suportar a dor ou carregar objetos pesadíssimos, mas milagre já é demais. Prova disso é que não conseguiu salvar a Portuguesa de Desportos do rebaixamento para a série C do Campeonato Brasileiro. Em 2014, o clube da capital paulista contratou o hipnólogo Olimar Tesser para trabalhar junto aos jogadores e auxiliar no lado emocional. Tesser já tinha trabalhado com o Paulista de Jundiaí, em 2010, e conseguiu recuperar o time, que tinha 95% de chance de ser rebaixado no Campeonato Paulista.

Casos de polícia solucionados no Brasil

HIPNOSE REVELADORA

No Paraná, uma mulher que presenciou o assassinato de seu marido foi hipnotizada 16 anos depois do homicídio e conseguiu lembrar do ocorrido, inclusive com riqueza de detalhes. Com as informações foi possível fazer o retrato falado do homicida. O Paraná é o primeiro estado brasileiro a usar técnicas de hipnose para auxiliar na investigação de crimes. A prática é usada para facilitar o detalhamento do caso, mas não serve como prova nos tribunais, pois viola o direito ao contraditório. Segundo a Agência Paranaense de Notícias, mais de 600 casos já foram elucidados pelo laboratório de Hipnose Forense do Instituto de Criminalística do estado.

ANDARILHO PERDIDO

Em maio de 2001, um jovem andarilho com cerca de 20 anos e sinais de amnésia vivia nas ruas de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba. Questionado sobre sua origem, o rapaz não soube explicar. Ele foi encaminhado ao laboratório do Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Paraná e submetido à hipnose. Em transe, ele descreveu detalhes da cidade onde nasceu e até lembrou o apelido de seu irmão. Após as investigações foi descoberto que o andarilho era natural de Esplanada (BA) e que havia sido raptado por ciganos que passavam pela cidade quando ele tinha oito anos. Após o encontro com a família, foram realizados exames de DNA que comprovaram o laço familiar.

IMPORTÂNCIA DA COR

Um atropelamento com duas vítimas fatais em Ponta Grossa (PR) foi resolvido graças à hipnose. A polícia tinha duas testemunhas do crime e uma pista: um ômega bordô. As duas testemunhas foram hipnotizadas e conseguiram informar às autoridades que a cor do carro era azul. Após as investigações, a polícia descobriu um carro com as características citadas pelas testemunhas, e a perícia identificou alguns respingos de sangue na parte frontal do veículo. O proprietário foi indiciado como o responsável pelo atropelamento.

7 Fatos que marcaram a história da hipnose

Fato 1

Quando foi criada, no século XVIII, a hipnose era chamada de mesmerismo. Isso por causa do nome do criador da técnica, o médico alemão Franz Mesmer (1734-1815), que a usava para curar doenças.

Fato 2

Mesmer só desenvolveu a hipnose depois de aprender, com o sacerdote jesuíta Maximiliano Hell, como tratar doentes usando o magnetismo. O jesuíta usava imãs para curar histeria.

Fato 3

Em 1784, uma comissão escolhida pelo rei francês Luis XVI foi até Mesmer para analisar a veracidade das técnicas usadas por ele. O mais curioso é que os chefes desse grupo de pesquisa eram ninguém menos do que Benjamin Franklin e Antoine Lavoisier.

Fato 4

Depois que a comitiva visitou Mesmer, os especialistas entenderam que ele não tinha nenhum poder de cura, mas sim um grande conhecimento dos pontos magnéticos do ser humano. Laivoisier e Franklin o consideraram uma fraude.

Fato 5

A hipnose só recebeu este nome em 1842. À época, o médico escocês James Braid trocou o termo mesmerização, que havia caído em descrédito, para que a prática fosse novamente aceita. Para tal, ele juntou a palavra grega Hypnos (a deusa grega do sono) e o termo do latim osis, que siginifica ação ou processo.

Fato 6

Sigmund Freud (1856-1939) só começou a usar a hipnose por que seu mentor, o médico francês Jean-Martin Charcot (1825-1893), já atendia seus pacientes com a técnica. Porém, Freud e Charcot pararam de hipnotizar seus pacientes depois que descobriram que esse tipo de tratamento poderia agravar os surtos psicóticos.

Fato 7

Os estudos na Inglaterra e nos Estados Unidos sobre hipnose foram estimulados após a Guerra da Coréia (1950-53). As Associações Médicas dos dois países aprovaram oficialmente o uso do tratamento hipnótico em 1955 e 1958, respectivamente.

Mitos e Verdades

Depois de hipnotizada, a pessoa esquece tudo? Não!

Só esquece quando o hipnotizador dá um comando para que isso aconteça. Esse fenômeno não espontâneo é chamado “amnésia pós-hipnótica” e só é possível em pessoas muito suscetíveis à hipnose. 

O hipnotizado faz tudo o que o hipnotizador quiser? Não!

As pessoas podem sair do transe se sugestionadas a fazer algo que vá contra os seus princípios. Também é mentira que alguém possa “não voltar de um transe” ou ser hipnotizado à revelia. A hipnose depende da vontade de seguir as orientações do hipnotizador.

Só é possível entrar em hipnose relaxando? Não!

Embora o mais comum seja induzir à hipnose com técnicas de relaxamento, em 1999 pesquisadores da Universidade do Texas e de Wisconsin fizeram um grupo de pessoas altamente hipnotizáveis entrar em transe enquanto pedalavam bicicletas ergométricas e desconstruíram o mito.

Pessoas com maior senso crítico são difíceis de hipnotizar? Não!

Não há, até hoje, nada que ligue sensibilidade hipnótica à personalidade. Os estudos, aliás, vão no caminho oposto: de mostrar que esse tipo de característica é indiferente. Pesquisas recentes dão indícios de que existam alguns genes ligados à suscetibilidade.

Olhe para esse ponto fixo

Clique no vídeo e entenda como a hipnose evoluiu ao longo dos anos.

Raio x da hipnose

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Beta: São emitidas de 13 a 25 ciclos de ondas por segundo. Nesse estado a pessoa está alerta (consciência total).

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Alfa: São emitidos de 8 a 12 ciclos de ondas por segundo. Nesse estado a pessoa está muito relaxada (princípio do estado de hipnose).

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Teta: São emitidos de 4 a 7 ciclos de ondas por segundo. Esse estado é associado às memórias da pessoa (hipnose profunda).

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Delta: São emitidos de 5 a 3 ciclos de ondas por segundo. Nesse estado é possível tratar insônia (sono profundo).

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Uma pesquisa realizada na Inglaterra constatou que a predisposição para ser hipnotizado depende da conexão entre os dois hemisférios cerebrais.

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No estudo, foi constatado que aqueles que têm os hemisférios cerebrais trabalhando de forma equilibrada são menos suscetíveis.

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Já aqueles com um dos dois hemisférios dominantes, são mais suscetíveis à hipnose.

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A atividade em áreas do cérebro associadas à razão diminuem, aumentando nas regiões onde se guardam imagens (lobo occipital), emoções (amigdala) e memória (hipocampo).

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A hipnose pode ser autoinduzida, quando a pessoa aplica a técnica em si mesma, ou alter-induzida, quando é aplicada por terceiros.

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A pessoa hipnotizada entra em um estado de devaneio, que permite que imagens, sentimentos e informações aflorem, se reagrupando no giro do cíngulo anterior.

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Este “conteúdo” segue, então, para córtex pré-frontal, quando chega ao consciente da pessoa hipnotizada.

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A hipnose afeta o giro do cíngulo anterior direito, responsável por levar informações de sentidos à parte racional.

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Reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, a hipnose é uma ferramenta de apoio ao diagnóstico e tratamento médico.

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Quando o hipnotizador pede que movam a mão direita, o córtex motor é acionado e todos se preparam para mover a mão.

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Na vez da mão esquerda, podemos perceber o mesmo ocorrendo novamente no córtex motor.

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Em pessoas hipnotizadas, o córtex motor manda sinais para o precuneus, área envolvida no imaginário mental e memórias. Fingidores não usam o precuneus.

Níveis de consciência cerebral

O cérebro conta com diferentes níveis de atividade, medidos de acordo com os ciclos de ondas por segundo. São eles que determinam se estamos alertas, relaxados ou dormindo. Os ciclos são divididos em beta, alfa, teta e delta.

Todo mundo pode ser hipnotizado?

Há diferentes correntes de estudo, o que significa que é possível encontrar diferentes opiniões e constatações sobre o assunto. Há aqueles que acreditam que todo mundo é hipnotizável em algum estágio, outros que diferentes porcentagens da população são suscetíveis. Entre os testes mais comuns estão a Escala Stanford e a Escala Grupal de Harvard.

Você está sendo hipnotizado…

Na vida real, a hipnose é um pouco diferente do que vemos na ficção. Ninguém perde a memória ou faz tudo o que o hipnotizador manda. Geralmente, a hipnose é feita por meio de estímulos monótonos e repetitivos, que levam ao relaxamento do corpo e da mente.

Imaginação aflorada

Existe uma parcela muito pequena da população – estimada entre 5% e 10% - capaz de chegar a um transe mais intenso, que em alguns casos resultam em amnésia e alucinações.

Tratamentos médicos

A hipnose já tem sido utilizada com sucesso no tratamento de dores crônicas, insônia, enxaqueca, obesidade, vícios, fobias, doenças da pele e até cancer. A prática ajuda a combater a somatização, que é quando a doença se manifesta ou se agrava devido a um distúrbio emocional.

E se eu fingir?

Estudos demonstram que é possível saber se uma pessoa realmente está hipnotizada ou apenas fingindo a partir de imagens do cérebro. Os padrões cerebrais de quem está hipnotizado (amarelo) são diferentes de quem não está (vermelho) ou que finge estar (verde).

A Favor da Saúde

Desde o século passado, a hipnose é usada para tratar doenças e vícios. Entenda como essa técnica funciona e em que casos ela é usada como uma terapia importante em prol da cura.

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Por trás dos mistérios da mente

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Você está olhando para um ponto fixo, e, de repente, tudo o que está ao seu redor desaparece. É assim que a sensação hipnótica começa. Dali em diante, a pessoa perde a noção do tempo e fica sob o “comando” do hipnotizador. Durante a hipnose, o cérebro passa por um fenômeno neurológico que altera a consciência e afeta diretamente a relação entre as diversas áreas cerebrais. Esta terapia faz com que o cérebro lembre de fatos esquecidos, ignore a dor ou ainda associe vícios, como álcool e cigarro, a situações desagradáveis que vão mudar o comportamento da pessoa.

A maioria dos seres humanos pode ser hipnotizada, mas apenas se quiser. Segundo um estudo da Universidade de Stanford, apenas 25% da população não pode ser hipnotizada. O psicólogo formado pela Universidade de São Paulo e especialista em hipnose Guilherme Raggi explica que quem “sonha acordado” com mais frequência costuma ser mais hipnotizável. Mas que a capacidade de entrar em transe, mesmo com treinamento constante, diminui enquanto se envelhece. “É importante salientar que a capacidade de alguém ser hipnotizado depende de suas disposições pessoais, sua crença em relação ao fenômeno, a motivação para a experiência, a relação que ela estabelece com o hipnotizador e as técnicas usadas.”

Durante o estado hipnótico, praticamente todas as áreas do cérebro são afetadas, com destaque para as partes frontais do córtex. Essas áreas, responsáveis pelas funções de planejamento e execução dos comportamentos, permanecem inibidas durante os procedimentos. “É isso que dá a sensação de ‘passar parte do próprio controle’ para o hipnotista”, diz. A Associação Americana de Psicologia classifica a hipnose como um estado de consciência que mantém o foco da atenção em algo, reduzindo a consciência periférica.

Hipnose e análises clínicas

A hipnose foi criada no século XVIII pelo médico alemão Franz Mesmer (1734-1815), que a usava para curar doenças. Sigmund Freud (1856-1939) também utilizava tratamentos hipnóticos. Ele, assim como seu mentor, o médico francês Jean-Martin Charcot (1825-1893), faziam uso da técnica para atender seus pacientes; mas, tanto aluno como professor, pararam de hipnotizar seus pacientes depois que descobriram o aumento dos surtos psicóticos como efeito colateral da prática.

Atualmente, a hipnose tem obtido mais espaço em várias áreas médicas. A prática é aceita pelos conselhos brasileiros de psicologia, medicina e odontologia desde 2000, 1999 e 1993, respectivamente. Nos tratamentos feitos por psicólogos, a hipnose é apenas uma parte da consulta tradicional, dura menos de uma hora. Há ainda a possibilidade de controle do próprio paciente, que é orientado a fazer a auto-hipnose para dar continuidade ao tratamento.

A hipnose é uma terapia “limpa”, que não recorre a medicamentos, procedimentos físicos ou uso de equipamentos. Em geral, as terapias deste tipo são condicionadas à avaliação biopsicossocial e duram entre seis e 12 sessões. “Um tratamento para alguém que tem transtorno de estresse pós-traumático vai ser essencialmente diferente do que o de alguém que quer parar de fumar.” Isso porque podem ocorrer reações inesperadas durante o processo. A pessoa pode ouvir barulhos ou sentir cheiros muito mais intensamente do que em qualquer outra situação. “Também já vi aparecer uma segunda personalidade em uma pessoa durante o transe”, conta Raggi.

Para o tratamento de dependentes químicos, por exemplo, a hipnose é usada como terapia coadjuvante. Assim após uma boa avaliação da situação do indivíduo, dos seus recursos psicológicos e da sua rede de apoio social, ela pode ser usada para associar o uso da droga com algo desagradável e assim aumentar a importância de aspectos bons (como a saúde, a relação com a família). A ideia é fazer com que o cérebro entenda que aquilo não é bom, mas esse resultado talvez não fosse conseguido com a mesma eficiência em uma “conversa racional”.